terça-feira, 10 de março de 2020

As habituais contradições de Marcelo


Não faltam exemplos dos passos em falso dados por Marcelo Rebelo de Sousa, quando raciocina de menos e exibe o esplendor da incontida tendência para agir em função da falível intuição. Na semana transata percebeu-se o agastamento com António Costa por este decidir antecipar-se-lhe na visita aos doentes ao Hospital de São João no Porto, roubando-lhe um protagonismo, que até o faz roer-se todo quando o vê partilhado com mais alguém. Mas percebia-se a intenção do primeiro-ministro: numa altura em que a generalidade da imprensa lançava um tal alarido em torno do novo vírus, que poderia dar ensejo a uma imprevisível histeria coletiva, era fundamental transmitir a imagem de serenidade por parte de quem estava a agir competentemente de acordo com a evolução dos acontecimentos.
Nos dias seguintes Marcelo excedeu-se em alfinetadas ao governo, ironizando com as recomendações de distanciamento social, que António Costa propunha como elementar medida preventiva. Abraços e selfies  não faltaram, nomeadamente na visita a Felgueiras, que não tardaria a ser identificada como cidade particularmente vulnerável a contaminação com o vírus.
Se o caso estava a merecer de Marcelo uma atitude de desafio aos conselhos emitidos pelo Governo e pela Direção Geral de Saúde, o que se seguiu passou a ser hilariante: tomando consciência de que pudera ter sido afetado pelo covid-19, decidiu entrar imediatamente em quarentena. E, agora que se confirma negativo o teste prontamente feito para aferir se também engrossaria a estatística dos infetados, ninguém o tira das cautelas e dos caldos de galinha nas próximas semanas. Para susto já bastou o deste fim-de-semana e não há como evitar os afetos, que os prosélitos lhe queiram transmitir tão só ponha um pé na rua.
Um pequeno caso confirma a inconstância de Marcelo: enquanto Costa nada alterou das regras como cumprimenta quem contacta no exercício do cargo  - até o homólogo sueco ficou de mão estendida no ar quando o quis cumprimentar - o auto-enclausurado inquilino de Belém faz o que é costume: vai de exagero em exagero, ora primando pela displicência irresponsável, ora aparentando indisfarçada cobardia.

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