quarta-feira, 11 de março de 2020

Falando de gatos, do covid-19, de Marcelo e do grupo Cofina


A obsessão dos telejornais com o covid-19 anda a estimular o clima de paranoia de boa parte da população, que se inquieta na mesma proporção com que os jornalistas anunciam novos casos de infetados como se esse empolamento quantitativo justificasse a discutível qualidade das suas opções editoriais. Nas redes sociais não faltam teorias da conspiração, que dão azo a fake news grotescas das quais a mais «elaborada» é a da origem do vírus num laboratório de Wuhan onde se fariam experiências com o do VIH, cuja sequência genética seria muito semelhante.
Os leigos leem esse tipo de mentira e são capazes de acreditar na notícia, mesmo que prontamente desmentida pelos meios científicos: as sequências genéticas dos vírus, mesmo sendo diferentes entre si, comportam algumas similitudes aqui e ali, que os mal intencionados agarram como fundamento para a sua «teoria». A verdade é que pegando num poema de Baudelaire sobre os gatos que tanto adorou, a história sinistra de Edgar Allan Poe que dá protagonismo a um desses animais com a cor preta ou um tratado científico sobre a teoria de Shrödinger, encontramos referência ao dito animal em qualquer desses textos sem que nos atrevamos a considera-los réplicas uns dos outros.
Haja, porém, que reconhecer as vantagens já rastreáveis sobre este coronavírus: não só a conhecida propensão hipocondríaca de Marcelo poupa-nos à sua habitual distribuição de selfies  e de abraços - mesmo que as televisões dificilmente o larguem, obrigando-nos a suportar os enquadramentos em contra-plongée para a sua varanda em Cascais! -, como podemos congratularmo-nos com o fracasso da operação bolsista da Cofina para aumentar o capital, pondo incautos investidores a financiar-lhe a estratégia monopolista na (des)informação televisiva. Lamentam os donos do «Correio da Manhã», que o vírus tenha precipitado o mau momento nas Bolsas europeias. Mas, mais relevantes do que essas duas vantagens assinale-se a proibição definitiva da captura, transporte e venda de espécies selvagens para serem consumidas pela população chinesa. Os ambientalistas, que há muito exigiam essa medida sensata, celebram a decisão do governo de Pequim.

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