domingo, 15 de março de 2020

Os nunca por demais denunciados malefícios das privatizações


Não é o tema, que está na ordem do dia, mas acabo de ver um excelente documentário francês sobre a privatização da água em vários países europeus, incluindo Portugal, e que deveria ser de visão obrigatória para quantos ainda possam crer na enormíssima vigarice proposta por alguns deputados da nossa Assembleia da República. Em Jusqu’à la dernière goutte os exemplos de Barcelos e Paços de Ferreira são apresentados a par de outros ocorridos em Paris, Berlim, Tessalónica, Dublin e outras cidades europeias.
Falácia constatável em todos: a tese segundo a qual as empresas privadas são mais eficazes na gestão desse bem comum e por isso podem garantir melhor serviço e preços mais baratos.
Consequências em todos esses exemplos: a garantia contratual de lucros aos acionistas privados, mesmo quando os consumos previstos não são atingidos (situação que levou a municipalidade de Barcelos a pagar-lhes lautas compensações). Mas também o aumento generalizado dos custos, que passaram a constituir encargo mais pesado no bolso das famílias.
No caso da capital francesa até se constatou uma situação igualmente preocupante: como a concessão tinha uma duração de vinte anos, a Suez nunca cuidou da manutenção do sistema de distribuição, que acabou por entrar em rutura. Daí que tenha-se iniciado nos países mais ricos da União Europeia o movimento contrário ao encetado anos antes, fazendo regressar as águas ao setor público, reconhecendo-lhe a importância como bem coletivo e não como um negócio privado. Empresas como a Nestlé, a Veolia ou a Suez passaram a ter vida mais difícil nesses países, mas em compensação a União Europeia, sobretudo no período em que Durão Barroso comandou o colégio de comissários, passou a impor essa privatização sempre que um país do sul ficava em dificuldades. Nos pacotes impostos pelas sinistras troikas a privatização de todas as empresas públicas incluíam as das águas como prioritárias. E o governo do Syriza portou-se cobardemente nessa matéria, rendendo-se aos ditames da Comissão e, sobretudo de François Hollande, cujo «socialismo» ficou na gaveta quando se tratou de dar satisfação á gula das empresas francesas de que era testa-de-ferro.
A guerra pela nacionalização firme do setor das águas não está ganha. Nas grandes empresas europeias «vocacionadas» para lucrarem à conta de uma necessidade incontornável das populações estudam-se novas estratégias para alcançarem os seus fins. Podem mudar de táticas mas o objetivo dos seus acionistas continua a ser o de enriquecerem á custa da infernização da vida das classes médias e das mais desfavorecidas. Denunciar as perversidades dos discursos dos cotrins de figueiredos ou dos andrés venturas é esforço constante, sobretudo, junto dos que ainda iludem e podem ser as vítimas de primeira linha do que sucederia se eles conseguissem os seus propósitos.

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