Não tem sido frequente, mas também sucedeu de quando em vez comigo aquilo de que o Miguel Guedes se queixa na sua crónica no Jornal de Notícias: aparecer-lhe quem ache ser este o tempo de unir forças não fazendo sentido um discurso marcado pelas diferenças entre as esquerdas e as direitas. Algo do tipo ontem aqui verberado a propósito de José Miguel Júdice, que quereria ver um governo de união nacional a responder a estas circunstâncias excecionais como se o de António Costa não esteja a fazer tudo quanto é possível e necessário com o agrado manifesto da maioria dos portugueses como o atestam as sondagens.
Esses que vêm com a falácia de não se justificarem divisões são os apoiantes dos que, entre 2011 e 2015 perpetraram tais cortes no setor, que quatro anos de recuperação não bastaram para pôr cobro a todos os danos suscitados pela sua herança de má memória. São os mesmos que, para evitarem essa chatice que continua a ser a existência de classes sociais com interesses contraditórios, gostariam de nos convencer sobre o fim das ideologias, porque as sabem capazes de lhes darem cabo deste estado de coisas em que se sentem confortáveis. São os mesmos que se incomodam com as evidências de nada de essencial ter faltado até aqui nos hospitais e serviços do SNS, mas não veem qualquer problema nas perguntas acintosas dos supostos jornalistas (na realidade ativistas das direitas) que, todas as manhãs procuram - em vão, reconheça-se! - pôr em causa a fiabilidade dos números apresentados pelo secretário de Estado, a ministra ou a diretora-geral de saúde.
Por isso mesmo concordo em absoluto com o cronista do Jornal de Notícias, quando ele diz que “as contas fazem-se agora. É nos momentos de crise que percebemos como tantas das nossas prioridades estão invertidas, como tantas das nossas (não) opções se arrastam para a irreversibilidade pela aceleração dos tempos. Este é um momento de emergência, exigência e urgência. É aqui, não depois de sairmos de um pesadelo, que devemos deitar contas à vida por muitas decisões políticas passadas que quase desmantelaram o SNS, sem dó nem piedade.”
Daí que reitere essa regra: as contas fazem-se agora e depois do fim do jogo como defendia um célebre capitão do clube do mesmo cronista. Porque no agora e no que se seguirá será sempre imperioso dividir as águas entre aqueles que sempre defenderam o Serviço Nacional de Saúde e o querem mais forte e os que contra ele votaram desde início e só se fazem seus paladinos quando lhes dá jeito. E aqui Marcelo está obviamente incluído.
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