segunda-feira, 9 de março de 2020

A serenidade e a confiança de quem nos governa


Excelente a entrevista que António Costa concedeu ao «Público» e foi inserida na edição deste domingo. Nada a apontar aos entrevistadores - Manuel Carvalho e Teresa de Sousa - que se dotaram de um guião consistente a possibilitar ao primeiro-ministro as explicações fundamentadas sobre todas as questões levantadas pelo presente estado da governação.
Quem se deu ao trabalho de ler atentamente as respostas de António Costa pôde confirmar que ninguém pode equiparar-se-lhe na profundidade com que analisa todos os constrangimentos e oportunidades da conjuntura e lhes propõe soluções a contento das aspirações da grande maioria dos cidadãos. Tendo à direita a incoerência permanente de Rui Rio e a imaturidade do Chicão para não falar das intragáveis posições dos deputados únicos do respetivos partidos e deparando à esquerda com o estéril esquerdismo de Catarina Martins e com o general Jerónimo às voltas no seu labirinto, António Costa é o político português em quem podemos confiar para prosseguir o caminho anunciado nos finais de 2015 quando, desfeito o falacioso arco da governação, enveredou por aquele que tem melhorado a vida dos portugueses e reduzido (ainda que demasiado lentamente) as suas desigualdades.
Por ser muito extensa a entrevista em causa merece ser esmiuçada nos seus aspetos mais importantes, quedando-nos aqui pelo desfazer de uma das acusações mais desonestas vindas amiúde das bancadas das direitas: que, apesar de subir acima da média europeia, a economia portuguesa vê-se ultrapassada pelas situadas mais a leste como se as receitas ultraliberais aí aplicadas mostrassem méritos superiores aos aqui revelados pelo governo socialista. Ora, para além de  estarem na fase pós–integração de que já nos distanciámos no final do século transato e de, em muitos desses casos, não estarem aperreados pelo euro, esses países não tiveram um Passos Coelho a deixá-los endividados acima dos 130%.
O mérito do atual governo é o de ter entrado num ciclo de convergência sustentada e ir reduzindo a dívida. Fiquemo-nos pois com as palavras de António Costa sobre essas fúteis acusações ao seu governo: “A convergência é com a média. Isso aconteceu entre 1986 e 2000, deixou de acontecer desde 2000 para cá. Voltou a acontecer em 2017, 18, 19 e todas as previsões apontam para que aconteça também este ano e no próximo. E temos de assegurar que vamos ter uma década de convergência sustentada. Quando fazemos essa  comparação, temos, em primeiro lugar, de nos lembrar de que esses países estão na fase em que nós estávamos entre 1986 e 2000. Em segundo lugar, muitos desses países não têm os constrangimentos de fazerem parte da zona euro. E, sobretudo, nenhum deles tem o nível de endividamento que o nosso país tem. Nós não temos estado só a convergir crescendo, temos estado também a convergir com um enorme esforço de desendividamento. Às vezes, diz-se: mas como é que a Espanha cresce mais do que Portugal? Vão ver a dívida da Espanha e a dívida de Portugal [estimativa 2019: Portugal — 118,9% (fonte: OE2020); Espanha — 95,5%”

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