segunda-feira, 14 de março de 2022

Uma guerra de final imprevisível

 

Quando a guerra na Ucrânia avança para a vintena de dias de consecutiva destruição, um dos mais lúcidos analistas do que ali se passa - José Pedro Teixeira Fernandes - alerta-nos para os perigos de só estarmos a ver um dos lados da guerra, que coincide com a propaganda dos invadidos, porque a do invasor é geralmente apresentada como mentirosa, ou, no mínimo, não credível. E, no entanto, adivinhamos muitas perdas humanas e materiais nos russos, mas pouco nos é dado a conhecer sobre as contadas no lado dos ucranianos. E, mesmo aceitando, o facto de a Rússia ter de suportar perdas enormes não resolve, só por si, o problema da Ucrânia. Podemos até esperar o pior de um governo acossado: uma guerra ainda mais violenta e destrutiva do tipo Tchetchénia.”

Se Putin parece preso no labirinto de uma estratégia, que não terá corrido de feição, melhor não se afiguram as escolhas de Zelenkii, que vai estar perante um extraordinário dilema político e humano. Continuar a guerra defensiva que lhe deu já um estatuto de herói  é, provavelmente, a única via possível nesta altura. Todavia, prolongar muito a guerra de resistência ao invasor implica assumir elevada responsabilidade moral e política. O sofrimento humano e a destruição material da Ucrânia aumentarão, sem garantias de uma vitória futura que afaste todas as exigências russas. Mas a alternativa é também má: aceitar os termos da Rússia, ainda que em versão suavizada, implica concessões políticas e territoriais que a Ucrânia rejeitou antes da guerra. Para muitos ucranianos isso seria uma capitulação humilhante. Neste contexto, fazer a paz revela-se uma tarefa tão árdua como resistir à invasão militar da Rússia.”

Por estas citações, colhidas da edição de hoje do «Público»,  afigura-se imprevisível o que decorrerá de um  conflito sem margem para meias-vitórias: de um e de outro lado existe a ambição de maximização dos objetivos. E ninguém quererá perder a face numa eventual discussão das condições para a paz que, até ver, a todos faz suportar custos incomensuráveis.

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