sábado, 26 de março de 2022

Pouca seriedade ou mesmo nenhuma

 

1. Ninguém acredita que Francisco Louçã não se prepare bem para as suas intervenções semanais na SIC Notícias, sabendo bem o que dizer para melhor efeito produzir no que entende delas resultar. Daí que só pode entender-se como de contestável seriedade intelectual a sua suposta indignação com o bastar a um estrangeiro comprar um imóvel de qualquer valor em Portugal para logo ter garantido o acesso à respetiva nacionalidade.

Numa altura em que Roman Abramovich é espantalho apetecível para conseguir efeitos demagógicos, proferir tal mentira - que nem era totalmente verdade com os vistos gold de Paulo Portas (que exigia valores acima de 500 mil euros) - soa a algo que costumamos ver como habilidade mais comum em André Ventura.

2. A propósito do partido racista fica a manifestação do espanto de alguns por terem visto Cristina Rodrigues, ex-deputada do PAN, a ser contratada como assessora daquele grupo parlamentar. E alegam a contradição entre ter pretendido a proibição das touradas e agora arranjar emprego em quem as defende como símbolo do seu orgulhoso marialvismo nacional.

Confesso que não fui colhido de surpresa, porque a deputada em causa exemplificou-me há quase cinco anos aquela célebre frase sobre a impossibilidade de causar uma boa impressão à segunda oportunidade, quando perdida a primeira.

Nunca dela ouvira falar até vê-la como uma das cabeças-de-cartaz de um encontro promovido pela Associação de Estudantes do campus universitário do Monte de Caparica e em que diversos candidatos a deputados pelo distrito de Setúbal tinham a oportunidade de dizer ao que vinham. Ora, além de ter chegado atrasada - o que define logo a seriedade com que olhava para os compromissos - as intervenções em nome do PAN foram tão pobres, que até o atarantado candidato do CDS parecia um catedrático.

Quatro anos depois e depois de ter navegado ao sabor das correntes, que lhe pareciam mais promissoras, Cristina Rodrigues não conseguiu ser levada a sério por quem pretenderia, porventura, comover para ter garantido emprego mais prolongado. E, agora, sem melhor alternativa, demonstrou a efetiva falta de escrúpulos ao associar-se a quem, já os sabíamos não ter. 

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