segunda-feira, 7 de março de 2022

Os efeitos económicos que começamos a sentir

 

Neste 7 de março temos mais caros os combustíveis naquele que é o primeiro dos efeitos económicos da guerra na Ucrânia entre nós. A que outros se seguirão, porque as sanções à Rússia não deixarão de comportar um problemático efeito de boomerang como o reconhece Ricardo Cabral em crónica no «Público»: “as exportações da Rússia são, em algumas áreas, essenciais à cadeia da produção global e às economias do Ocidente, a Rússia parece utilizar as próprias sanções do Ocidente reforçando-as, para, em articulação com outros países produtores de petróleo, induzir um aumento do preço petróleo, gás natural, da eletricidade, bem como dos cereais (a Rússia tem uma posição dominante na produção de fertilizantes) para níveis muito mais elevados que se traduzam num aumento da taxa de inflação e em enormes dificuldades para a generalidade da população do Ocidente e dos países mais pobres.”

Esses efeitos tenderão a arrefecer os ânimos do que passam o tempo a encher as redes sociais de apelos ao mata e ao esfola, ignorantes das consequências em desemprego, falta de capital e de matérias-primas, que tais decisões implicarão, até por não poderem abranger o petróleo e o gás natural de cujo fornecimento a leste muitos dos países da União Europeia estão dependentes. Por muito que, do outro lado do Atlântico, haja quem, por esta altura, esteja a salivar com a possibilidade de deste encontrarem novos clientes para o gás de xisto. Mas, mesmo desse lado do oceano, há mudanças em curso, porque a Casa Branca já terá contactado o regime de Nicolas Maduro para, mediante o aligeirar das sanções a que o sujeita, o ter como fornecedor de um mercado, que ameaça tornar-se disruptivo se as torneiras russas se fecharem.

Por isso mesmo vou-me espantando com quem ainda imagina soluções extremamente perigosas para uma situação em que parecemos os herdeiros incapazes de almoçarem por o pai adiar a morte. Ficando por saber se esse «pai» é Putin ou Zelenskii.

Escasseiam as análises equilibradas de que Carmo Afonso é exemplo na derradeira página do jornal da SONAE, mormente quando hoje escreve que  é preciso atender às vozes que dizem que os recentes avanços da NATO, em direção à Rússia, concretizados na adesão de novos países vizinhos, contrariaram entendimentos vigentes e que seguravam a paz; que a possibilidade de adesão da Ucrânia à NATO é uma provocação para Putin; que é atendível que Putin não queira forças militares, ligadas aos Estados Unidos, junto às suas fronteiras; que o Presidente da Ucrânia é um homem cheio de falhas e a sua proximidade com a extrema-direita é uma delas; que a democracia na Ucrânia tem as falhas do pior da democracia; que Putin não está de forma alguma ligado à esquerda, mas sim a interesses económicos e também à extrema-direita”. E que, por isso mesmo, foi tardia e desajeitada a forma como o PCP se dissociou de um ditador, que nada tem a ver com os valores defendidos no seu programa.

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