1. Quando a poeira assentar e a análise ao que a guerra na Ucrânia tem revelado ganhar uma desapaixonada forma de olhar para as realidades, poderemos reivindicar, sem margem para contestação, que os governos do Partido Socialista do último quarto de século estiveram particularmente bem ao promoverem as energias renováveis enquanto os dos partidos das direitas pecaram por lhes terem servido de travão. Se hoje sabemos que 60% da eletricidade distribuída em Portugal abdica da origem em hidrocarbonetos, facilmente concluímos que, pese embora os custos a suportar quando vamos às bombas de combustíveis, vivemos num país menos condicionado pelos efeitos dos acontecimentos a leste do que a maioria dos demais 26 países da União Europeia. E esse é argumento que não poderemos deixar de enfatizar, quando manifestamos a capacidade visionária dos socialistas para olharem para o futuro enquanto as direitas mais não vislumbram do que os lucros passíveis de angariar no presente e, muito particularmente, para os interesses de que são tributárias.
2. Neste sábado já ascendem a 2,5 milhões os ucranianos fugidos do seu país, segundo os números do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, enquanto ganham relevância os bombardeamentos russos nas regiões por onde a NATO procura fornecer o armamento destinado a combatê-los. Dizer que esta não participa ativamente na guerra é uma óbvia mentira como aliás decorre da decisão do Conselho Europeu de Versalhes em financiá-la com mais mil milhões de euros.
3. A preocupação maior dos líderes europeus é, porém, outra: como contornarem a estagflação, que ameaça resultar dessa guerra. Um novo programa de emissão de dívida conjunta para financiar o aumento da despesa militar e a transição energética poderia ser a resposta daqui a quinze dias, mas os países ditos frugais já anseiam pelo regresso às regras do Pacto de Estabilidade em vigor antes da pandemia. Em perspetiva fica a forte probabilidade de enfrentarmos a estagnação da economia europeia ao mesmo tempo que subirá a inflação e o desemprego.
4. No entretanto, e enquanto João Miguel Tavares lança tonitruantes foguetes pelo apoio do Chega aos ucranianos, o o Prof. Boaventura Sousa Santos volta a lembrar no «Público» que “o neonazismo não é coisa de menos na Ucrânia. Este país é o único onde líderes neonazis foram condecorados pelo Presidente da República e onde as suas milícias (nomeadamente o Batalhão Azov) foram integradas no exército regular.” E até o Atlantic Council da NATO o reconheceu em 2020 num documento, que instava os membros da organização a considerarem terrorista esse famigerado batalhão, artigo cuja leitura muito se recomenda a quem quiser ver a guerra sem filtros tão a preto-e-branco quantos algum pretendem impor...
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