domingo, 6 de março de 2022

É o mundo em que vivemos

 

Não são muitas as vezes em que concordo com Miguel Sousa Tavares mas, desta feita, subscrevo por inteiro o seu texto publicado no «Expresso» em que diz de Putin tanto mal quanto o justificam as circunstâncias atuais da guerra, mas chama a atenção para aquilo que muitos esquecem: a substância de que é feita o mundo em que vivemos. E que justifica conter as emoções e as ineficazes lágrimas pelas vítimas para ponderar no que melhor tenderia a cercear o seu crescimento nos próximos dias, meses, anos.

Como síntese fiquemo-nos pela forma como se conclui esse texto de referência para quem procura nesta loucura um sinal de lucidez:

“O perigo é a tentação de esperar por um golpe de Estado no Kremlin ou de querer ver Putin humilhado, na esperança de que ele se retire de calças na mão para depois ficar a ver os russos dizimados pelas sanções económicas (com o fraco consolo de nos ver a nós, europeus, também a ganir com as suas consequências). Ou então a suprema tentação de forçar o homem ao desespero apenas pelo prazer de fazer prova de que ele é mesmo louco e perigoso, o que já todos sabemos.

Mas um homem que anda sempre com uma mala azul que tem um botão vermelho lá dentro, capaz de reduzir instantaneamente ao silêncio todas as redes sociais do planeta, não pode ser levado ao desespero. Goste-se ou não deles, há nove homens que têm uma mala igual à de Putin e há 70 anos que nós negociamos com eles, assinamos com eles acordos e tratados para manter a paz no meio do que chamamos o “equilíbrio do terror”.

Na cadeira onde hoje se senta Putin já estiveram outros tão ou mais loucos e perigosos do que ele, e também com eles se negociaram coisas até bem mais importantes do que a Ucrânia.

É o mundo em que vivemos.”

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