terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

Uma certa «arte» intemporal de ser português (rasca)

 

Comprometido com uma investigação, que me leva a prospetar jornais de outros tempos, encontrei uma notícia elucidativa nas páginas centrais do «Diário de Lisboa» de 7 de abril de 1949: ela denotava a enorme a estranheza de ver um «capitão preto» partir para a Terra Nova para aí assumir o comando de um dos bacalhoeiros aí em atividade e constituído por uma tripulação de «brancos» Até mesmo um jornal, que procurava ser a tímida voz da oposição republicana à ditadura de Salazar, abordava o assunto como se se tratasse de singular aberração.

Felizmente que os tempos mudaram e, hoje em dia, o termo faz mais sentido pela voz do ex-sindicalista Manuel Morais, que assim considerou a ignóbil criatura num post do facebook e por isso foi suspenso do Corpo de Intervenção da PSP a que pertence. Esse castigo merece a repulsa de muitos democratas - entre os quais me incluo - por demonstrar o quanto o vírus protofascista chega às mais altas instâncias da instituição, que nunca mostrou particular empenhamento em identificar e punir os que militam no tal Movimento Zero, que no seu interior, são a expressão desse extremismo de direita.

Podemo-nos surpreender com a aparente passividade com que Eduardo Cabrita reage a este tipo de situações por si tuteladas, aliás corroboradas no eloquente comunicado que o mesmo comando da PSP publicou a propósito do assassinato do ator Bruno Condé, que quis excluir de ter origem racista. Mas, acompanhando há muito as ideias e as práticas do ministro, podemos adivinhar que ele olha para a direção dessa polícia e lhe adivinha a condição de vespeiro onde arrisca a picar-se se o agitar imprudentemente.

Daí que não se encare com particular confiança a possibilidade de transitar as competências do Serviço de Fronteiras para essa mesma PSP. Tendo em conta o que a ela se associa nos anos mais recentes, mormente na mal afamada esquadra de Alfragide, não podemos ter garantias de que um qualquer outro Ihor Homenyuk  caído em má hora na sua alçada não venha a sofrer os mesmos maus tratos, que hoje começaram a ser objeto de julgamento no Campus de Justiça em Lisboa.

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