«Dinheiros públicos, vacinas privadas: as razões da produção a conta-gotas» é um texto de José Gusmão, Moisés Ferreira e Bruno Mais, hoje conhecido no «Público», e que merece pertinente atenção. Porque denuncia a precipitação da Comissão Europeia, que se apressou a financiar a investigação para as novas vacinas contra o covid 19, mas comprometeu-se a respeitar a propriedade intelectual das farmacêuticas quanto às correspondentes patentes, ficando agora na humilhante posição de mendigar por aquilo que pagou e contratualmente julgou garantir. Agora, indiferentes à dimensão da pandemia, essas grandes farmacêuticas gerem os ritmos de produção de acordo com a maximização do lucro para os seus acionistas. Razão para que Guterres tenha reconhecido quanto a vacina representara um sucesso para a ciência mas um fracasso para a solidariedade internacional.
Daí que faça todo o sentido o que os três subscritores do texto propõem e de acordo com o principio internacional do primado da saúde coletiva: “ou as farmacêuticas libertam as patentes a preços razoáveis, ou essas patentes terão de ser quebradas e divulgadas livremente. A capacidade produtiva existente deve ser plenamente utilizada e alargada, na medida do possível. Já morreram mais de dois milhões de pessoas por causa da covid, fora as que não entram nas estatísticas. Essas vidas valem mais do que os lucros de um negócio pago por nós.”
Acrescentaria até mais: tendo em conta a forte probabilidade d, no futuro próximo, nos vermos obrigados a conviver com este vírus, seria judicioso que pudéssemos combatê-lo com vacinas produzidas por empresas públicas detidas pelo conjunto da União Europeia em vez de apenas comandadas de acordo com os interesses estritamente nacionais dos seus membros mais ricos.
Sem comentários:
Enviar um comentário