sábado, 6 de fevereiro de 2021

O verdadeiro rosto que eles têm

 

1. Nunca me conheci como tendo um daqueles caracteres dados à depressão, quando a realidade política não coincide com os meus desejos. As vitórias suscitam-me jubilatórias alegrias, mas as derrotas põem-me a ponderar no que há a fazer para serem revertidas na oportunidade seguinte. Foi o que sugeri a amigos açorianos, quando manifestaram enorme tristeza pelo acordo com que o seu arquipélago natal se viu brindado há pouco mais de dois meses. “É dar-lhes pano à vela para ver a direção, que irão tomar!”, sugeri então.  E ela está a manifestar-se mais rapidamente do que eu próprio conjeturara. 

Para os eleitores, que se deixaram embalar por falaciosos argumentos contra o governo anterior, e consideraram judiciosa a escolha de um outro, o despertar para a realidade arrisca-se a revestir-se de abrupta desilusão. Porque lhe prometeram um governo mais poupadinho e isento de nepotismo e dão com um que revela-se pródigo em tais características. O ditado sobre Frei Tomás ganha particular substância, quando os proponentes de tão bonitas palavras contra a corrupção logo mostram ao que vêm, quando podem ser eles a exercê-la. E, quando fundamentaram os argumentos no combate à suposta preguiça de uns pobres desgraçados, que recebem 86,11 euros mensais para mitigarem a fome, não avisaram os incautos de que só à conta dos amigos e familiares chamados para o governo e tudo quanto dele depende, poderia pagar-se anualmente essa suposta madracice a 7700 outros necessitados.

A História sempre tem sido pródiga em casos de grandes paladinos da luta contra a corrupção, que só a veem como problema, enquanto não estão eles próprios em condições de dela beneficiarem. O governo regional dos Açores vai possibilitar-nos - através das suas incompetências, insuficiências, chico espertices e vigarices - confrontar todos os partidos nele representados com a sua verdadeira e indesmentível natureza.

2. Pequenas notas adicionais colhidas ao sabor das leituras de fim-de-semana:

 - Portugal é o 16.º país do mundo com mais pessoas vacinadas por 100 habitantes, à frente de Espanha, Suécia ou Alemanha.

 - Um estudo feito pela Universidade de Coimbra mostra que 75% das queixas de racismo praticado por polícias nos últimos dez anos acabaram arquivadas. E, de nenhuma delas resultou uma única condenação.

- 3592 contribuintes legalizaram junto do fisco 6000 milhões de euros escondidos no estrangeiro, ficando a salvo de infrações criminais e beneficiando de convidativas taxas de regularização (2,5%, 5% ou 7,5%), indica um relatório que a Autoridade Tributária e Aduaneira (AT) entregou esta semana no Parlamento.

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