terça-feira, 9 de fevereiro de 2021

O foco da nossa atividade política

 

Combates pela igualdade: é o título do texto de Sandra Monteiro na edição de fevereiro do Le Monde Diplomatique e onde analisa a situação política atual à luz dos resultados da eleição presidencial e da persistência desta crise sanitária. A concluir propõe: “à esquerda, às diferentes esquerdas, cabe promover, mobilizar e apoiar todos os combates pela igualdade. Cabe-lhe opor-se a toda a direita, sem se deixar afunilar numa oposição àquela parte da direita que não é democrática, como se o combate fosse entre «democracia» e «não democracia». Porque, em rigor, no tempo presente, não é dessa direita autoritária que os explorados e os mais vulneráveis se queixam. É da democracia que lhes vem matando a esperança”.

Nestas breves linhas condensa-se um pensamento consistente sobre este presente que nos suscita tão moroso descontentamento. Porque não é só o constrangimento de nos vermos coartados nas liberdades mais essenciais (as de sequer darmos aprazíveis passeios numa zona ribeirinha), que nos afeta. Sabemo-nos impotentes para evitar a perda de rendimentos causada em tantas famílias, que vão passando por incomensuráveis dificuldades sem que o orçamento de Estado possa contemplar os apoios mínimos de que careceriam. Entre a difusão do vírus, sobrelotando hospitais e casas mortuárias, e a continuidade da atividade económica normal a escolha é a óbvia. Mas a pandemia está a agravar as dificuldades numa realidade nacional, que já era assaz complicada à luz do coeficiente de Gini. E, como se constatou na eleição presidencial não foram só os ricos da Lapa ou do Estoril a porem o voto na ignóbil criatura, porque muitos desvalidos nele terão sinalizado o protesto contra uma sociedade incapaz de lhes alimentar as mais lícitas esperanças.

A diretora do Le Monde Diplomatique alerta para o erro das esquerdas focalizarem o combate político nessa tal ignóbil criatura, porque foi essa armadilha a que levou países europeus a optarem por políticos de direita com aparência mais civilizada tipo Macron. Extremas ou moderadas (seja lá o que isso queira dizer), as direitas sempre promoverão políticas fomentadoras de maiores desigualdades ou, no mínimo, de consolidação das já existentes. Daí que o verdadeiro combate seja no sentido inverso, o de manter estratégias políticas de redução dessas inaceitáveis diferenças de rendimentos entre os portugueses.

A convergência à esquerda, conseguida logo após as legislativas de 2015 produziu efeito palpável na melhoria desse coeficiente de Gini nos quatro anos que se seguiram. Não sobram dúvidas quanto à melhor estratégia a prosseguir para consolidarmos e melhorarmos esses resultados. Assim saibam as nossas esquerdas estar à altura daquilo que delas se impõe. Porque só assim os iludidos votantes na ignóbil criatura tenderão a deixá-lo a barafustar para cada vez mais minguada assistência.

1 comentário:

  1. Pelo menos aqui o Jorge Rocha já concede que os votantes de Ventura não serão todos pessoas deploráveis. É preciso que se diga que quem vota em tal pessoa, subscreve o seu discurso de ódio, mas isso não faz deles gente para além da remissão. De resto, não poderia estar mais de acordo. Combate-se a Direita de Ventura combatendo o programa político da Direita e oferecendo esperança a quem dela precisa...

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