quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

A Democracia a não dar-se ao respeito

 

Um criminoso de guerra foi a enterrar e o presidente da democracia, que lhe deu asilo sem sequer o julgar, viu-se na obrigação de lhe prestar indevida homenagem. Se o sujeito deixou memória entre os seus, que traiu e violentou, de pouco importa esse saldo a quem insiste em considera-lo herói e até aproveita para insistir na defesa do ignóbil passado, aquele em que milhares de jovens morreram em vão, se estropiaram para o resto da vida, fisicamente ou nos danos conservados nas profundas da mente.

Uma questão de higiene coletiva mandaria que a guerra fosse constitucionalmente reconhecida como um crime contra a Humanidade com direito a julgamento internacional no tribunal de Haia. E, a exemplo dos negacionistas que teimam em desmentir o Holocausto, aos que ainda defendem a colonização e aos que nela praticaram crimes hediondos deveria ser declarada a pena definida pela democracia ateniense a quem contra ela se declarava. O merecido ostracismo. Por cá, pelo contrário, até merecem acompanhamento do presidente no cortejo fúnebre como se lhes reconhecessem préstimo, afinal só devido por aquela parcela social digna de salutar expurgação.

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Ainda a respeito do criminoso de guerra agora levado a enterrar no cemitério de Queluz com acompanhamento presidencial: será que a indignação de muitos, entre os quais me incluo, terá a ver com a cor da sua pele? Será uma inadvertida manifestação de racismo?

Claro que não! É verdade que, sem escândalo público, têm sido enterrados muitos criminosos que fizeram coleções de orelhas ou jogaram á bola com cabeças de negros que mataram. Mas, esses, vão desaparecendo no anonimato sem servirem de bandeira para quem continua a  olhar a guerra colonial como legítima e digna de apreço. Posição, que deveria ter ficado consignada como criminosa na Constituição de 1976!

Como o não foi, essa gente continuou a dar estatuto de herói a um cabeça de cartaz, que o fascismo usava como forma de se legitimar perante si e a comunidade internacional: a de existirem entre os povos colonizados, quem se quisesse manter sob a sua alçada. Ora foi esse o papel desempenhado pelo defunto, quer enquanto o fascismo durou, quer agora que os seus saudosistas querem recuperar!

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