Parecendo nada ter a ver connosco a situação política italiana ajuda a compreender as razões porque, entre nós, se levantaram umas quantas vozes a pugnarem por um suposto governo de salvação nacional.
A razão principal são os milhões de euros que provirão das instituições europeias para que procedamos à reconstrução da economia. São eles a aterrorizarem as direitas não só por não terem voz ativa para onde eles deverão ser canalizados - mormente para os amigos, que os têm como estratégicos provedores dos seus interesses! - mas, sobretudo, por não lhes ser difícil imaginar o potencial de favorecimento eleitoral do governo que, depois de ter sabido contrariar os efeitos mais gravosos da pandemia, alavancará a economia e garantirá rápida recuperação do volume do emprego e dos rendimentos das famílias.
Foi por ter isso em atenção que, apesar das sondagens lhe darem perspetivas miseráveis em caso de novas eleições, Matteo Renzi provocou a queda do governo de Conte, que resultava da coligação do Movimento 5 Estrelas com o Partido Democrático, de que fora secretário entre 2013 e 2018 e cujo assassinato político tentara perpetrar depois de ver-se impedido de o levar tão para a direita quanto intentava. Este franco-atirador da direita no seio da esquerda, espécie de caricatura da Terceira Via, conseguiu que fosse formado um novo governo onde se foi colar o outro Matteo - o Salvini - que, oportunisticamente, mandou às malvas o ideal soberanista assente na promessa de um iminente Italiexit, por recear a perda do apoio eleitoral acaso não participe na divisão desses tais milhões de euros.
O fascismo tal qual hoje se veste - é assim com Salvini, sê-lo-á com a ignóbil criatura que por estas bandas nos assombra! - é assim: sem outra solidez ideológica que não sejam as táticas casuísticas coincidentes com a demagogia populista de que se reveste, é capaz de defender uma coisa e o seu contrário sem qualquer pinga de vergonha. Mesmo que os mais lúcidos nisso vejam o comportamento de troca-tintas.
Por cá a estratégia de Renzi não surtiu efeito, tendo sido descartada pelo próprio Marcelo. Podemos, assim, prever que a estratégia das direitas replicará a que vem seguindo com o processo de vacinação. Quando os milhões vierem e investidos neste ou naquele setor, que deles muito carecem, logo sobrará o clamor dos que dirão ter sido preferível aplicá-los num qualquer outro lado. Mas, como de costume, perante caravana a avançar, de pouco mais lhes valerá que não seja a produção de ruidosos latidos.
Bom texto e muito actual. Os direitolas, aonde incluo o PSD, queria o regresso do seu mentor o infeliz Cavaco, que desbaratou os fundos ora recebidos, pelos seus amiguinhos e nada fez pela desenvolvimento da economia, excepto o tentar cobrir o nosso Portugal de alcatrão. Desta vez, tocam pianinhos, pelo que queriam um governo de salvação nacional. Deixem me rir, porque desta vez o dinheiro vai chegar, onde faz falta.
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