sábado, 20 de fevereiro de 2021

As diversas formas de entrarmos neste chuvoso fim-de-semana

 

Podemos iniciar o fim-de-semana de muitas maneiras, mas uma delas, porventura a mais sadia para estes tempos de confinamento, é à gargalhada. Porque depois de ter «ganho» da maneira que se sabe as presidenciais, o Chicão já anunciou com pompa e circunstância a sua provável vitória nas autárquicas. Nos seus delirantes propósitos o líder do CDS está para a política como o famoso Ed Wood estava para o cinema: sempre ao nível da sarjeta, mas a crer-se à beira do olimpo dos deuses.

Podemos, igualmente, mostrarmo-nos animados, recorrendo para tal à crónica de Bárbara Reis no «Público» de hoje em que continua a estilhaçar, um por um, os argumentos dos liberais com suposta capacidade de iniciativa, que insistem em acreditar que a Irlanda apresenta indicadores de desenvolvimento melhores que os nossos. Mormente na saúde pública. Alegam para isso uma ligeira superioridade no capítulo da mortalidade infantil com 2,7 nados-mortos por cada mil nascimentos, mas os nossos 3,3 estão a nível da insuspeita Suíça e bem melhores do que se verifica com o Reino Unido ou os Países Baixos. Ademais, e ainda quanto ao que tem a ver com a saúde dos cidadãos o Euro Health Consumer Index colocava-nos em 2018 no 13º lugar, relegando a Irlanda para 22º, muito devido ao facto de, por aquelas bandas, a primeira consulta com um especialista demorar mais de dezoito meses a verificar-se. Em suma, podemo-nos abrigar da chuva que ainda mais nos incita a ficarmos todo o fim-de-semana em casa, a congratularmo-nos com o facto de, havendo muitos que tudo alegam para dizerem mal do nosso Serviço Nacional de Saúde, ele está afinal razoavelmente bem e ainda melhor promete ficar com o robustecimento do investimento nele aplicado nomeadamente com a ajuda da tal bazuca europeia.

Na saúde ainda importa relevar o alerta de António Guterres na Conferência de Segurança em Munique, em que juntou a sua voz aos que dizem ser estulta uma ampla vacinação de todos os cidadãos nos países desenvolvidos se não for acompanhada do mesmo esforço para todos os demais. É que, neste mundo globalizado, o vírus não conhece fronteiras, nem classes sociais, rapidamente expandindo-se ao encontrar forma de explorar as fragilidades do nosso mundo atual. E uma das que mais nos periga é a enorme desigualdade de rendimentos entre os que têm padrões de qualidade de vida aceitáveis e os que por eles anseiam e não veem outra solução que não seja atravessarem o Mediterrâneo a nado para aqui os virem procurar.

Há, ainda, e finalmente, a possibilidade de entrarmos dececionados neste fim-de-semana após quase todos os deputados do PS se terem associado a um voto de pesar por um confesso criminoso de guerra. Ascenso Simões, que honra lhe seja feita, se escusou a tal vergonha, escreve no «Público», que “a nossa História precisa de ser descolonizada, carece de uma limpeza de atavismos historiográficos. Não se suportará uma História anacrónica, mas é insuportável uma história falsa.”

Olhando para fora-de-portas podemos indignarmo-nos com o atentado à liberdade de expressão que constitui a prisão de um rapper espanhol com quem se solidarizaram Pedro Almodovar. Javier Bardem e Joan Manuel Serrat numa tomada de posição conjunta na véspera da polícia, a soldo da ilegítima monarquia, o ir prender na universidade de Lleida. A exemplo de circunstâncias anteriores acredita-se que o Estado espanhol volte a ser condenado no Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, que já anteriormente o sancionou pela grotesca proteção legal dada a uma instituição, que Pablo Hásel denunciara, com toda a razão, como sendo corrupta e obsoleta.

Mas, voltando ao riso desbragado, podemos concluir com o saboroso episódio, que envolve Ted Cruz, um dos republicanos com maiores pretensões a substituir Biden na Casa Branca. Dado que a forma como a distribuição da energia elétrica no Texas foi organizada para garantir lucros obscenos a quem a tem como monopólio, o Estado ficou em prolongado black out numa altura em que as temperaturas desceram abaixo das verificadas no Alasca. O que fez, então, esta criatura, que a nossa ignóbil réplica nacional tanto procura imitar com os enfáticos discursos “contra o sistema”? Pegou na família e foi usufruir das mordomias de um hotel de cinco estrelas na tropical estância de Cancun para choque confesso da imprensa de extrema-direita, que o costuma apoiar.

No fundo podemos ter esperanças em que, imitando-o nos discursos e na preocupação em dar uma determinada imagem de si, o nosso fascista de serviço, também o acompanhe nas falhas, naquilo que revelam sobre a sua verdadeira natureza. Pés em falso é o que mais facilmente pode acontecer a quem cria imagens mistificadas de si mesmo e acaba, mais tarde ou mais cedo, por não conseguir adequar-se a tal máscara. 

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