Olho para o Conselho Nacional do CDS, concluído com a confirmação da periclitante legitimidade do Chicão, como o princípio do fim de uma tendência, que se verifica há alguns anos a esta parte e por mim testemunhada junto de alguns amigos, todos socialistas, a quem os filhos chegaram à idade de entrarem para a universidade e mudaram as antenas para os partidos mais à direita do espectro partidário.
Como entendê-los?, questionavam-se os atónitos progenitores, que confiavam ter-lhes dado educação propícia a que militassem à esquerda. A verdade é essa: suspensa por agora uma preocupação juvenil com as ideologias - tanto mais que acreditaram em quem as proclamou como fora de validade! - olham para o ascensor social e veem-no parado.
Pensarão em como sairão das frustrações da pequena burguesia a que pertencem e acedam às regalias tão aparentemente fáceis de conseguir pelos mais ricos.
Como enriquecer, eis a sua questão. E ouvem os cantos de nada inocentes sereias, que lhes pregam as falácias da meritocracia e a superioridade das empresas geridas por privados. Não lhes interessa que essas duas teses já tenham sido desmentidas ad nauseum em anos recentes. A capacidade humana para se querer convencer daquilo que melhor lhe corresponda às ansiedades é infinita. O pior é o confronto com as realidades.
O Chicão é um representante notório dessa geração de gente fácil de se iludir. A pressa de chegar aonde julgam mudar o mundo de acordo com as suas expetativas não se compadece com as rotas trilhadas de acordo com tão fúteis visões dos contextos e dos futuros que os condicionam. E estampam-se!
É essa a constatação, que mais me interessa recolher do anunciado embate do patético líder centrista com aquilo que lhe chamuscará o resto das asas e o fará tombar nos abismos sem nada que lhe alivie a queda.
Para ele e para os que o viram como melhor exemplo da sua geração - também representada na Iniciativa Liberal - é só dar-lhes guita para que compreendam não possuírem mais talentos do que quantos procuram singrar no dia-a-dia com a consciência de pertencerem a outra parte da mesma geração ciente das vantagens de se pensarem coletivamente e como, afinal, os tais manuais sobre as ideologias intemporais continuam a ser muito úteis.
'A capacidade humana para se querer convencer daquilo que melhor lhe corresponda às ansiedades é infinita. O pior é o confronto com as realidades.'
ResponderEliminarJá reparou que poderíamos dizer o mesmo do socialismo real e dos marxistas seus seguidores?
Em boa verdade, a crise atual deriva da decadência do último grande sistema surgido no sec. XX, neste caso o neoliberalismo. Depois da falência da social-democracia e do colapso do bloco soviético, é agora o sistema construído por Thatcher e Reagan e continuado por Blair et al que dá mostra de dar as últimas.
Observamos pois o retorno de síntomas mórbidos, como sejam a conquista do poder por políticos que se comportam na verdade como chefes mafiosos (Trump, Putin, Bolsonaro, etc) e que propõem um retorno a uma espécie de neofeudalismo.
É difícil perceber o que se seguirá, mas duvido que olhar para o Passado como faz a Esquerda da Esquerda proporcione soluções. Daniel Oliveira disse que não queria ter com a Direita os debates do sec. XIX. É bom que a Esquerda não queira substituí-los pelos do sec. XX...
Aconselha-lhe pois ao Jorge Rocha um pouco de introspecção, de modo arrisca-se a acusar os outros de males dos quais também sofre...