domingo, 14 de fevereiro de 2021

O exemplo neozelandês

 

Nos telejornais da hora do almoço surgiram imagens de uma das mais admiráveis personalidades políticas atuais, a primeira-ministra neozelandesa Jacinta Ardern que, perante o surgimento de um pequeníssimo número de casos de covid  na segunda cidade do país, não foi em condescendências: confinamento geral para eliminar à nascença o ressurgimento de uma ameaça, ali levemente sentida, porque nunca ali tiveram cabimento as atitudes daquele tipo de cozinheiros oportunistas, conhecidos entre nós por se autopublicitarem à conta de rebeldias negacionistas.

Podemos sempre considerar que a geografia ajudou os neozelandeses a viverem à margem da pandemia mundial, mas o facto de estarem lá para baixo, nas profundezas do Pacífico, quase a lamberem as águas antárticas, não explica tudo. Nem tão pouco constituírem o equivalente a metade da população portuguesa.

Acredito que muito se deve às políticas assumidamente de esquerda de uma primeira-ministra, que não enjeitou a importância de reconhecer os direitos ancestrais a 17% da sua população, descendente dos maoris, e que tem na defesa da natureza uma das suas preocupações fundamentais. Hoje, no arquipélago austral, os rios ganham estatuto de personalidade jurídica, defendendo-se de todos os ataques ambientais contra eles foram cometidos no passado, e há uma guerra intensa contra aquelas espécies invasoras - ratos, arminhos, opossuns - introduzidas, ora para combater as pragas de outras inadvertidamente ali introduzidas (os coelhos), ora para darem ensejo a quem pretendia fazer negócio com as suas peles.

Ao ler uma reportagem sobre essa realidade num dos mais recentes números da edição portuguesa da National Geographic encontrei uma outra, igualmente interessante, sobre o aumento do número de abutres-pretos em território nacional, a par de outras necrófagas congéneres não tão ameaçadas de extinção. E, nesse sentido, há que reconhecer o lado positivo da desertificação do interior do país em detrimento do litoral, onde se concentra a grande maioria da população portuguesa. Se outro préstimo não têm as terras da raia, que sirvam para a Natureza ali reconquistar os seus equilíbrios depois de contra ela os homens tanto mal terem praticado. E que dizer do indizível prazer de virmos a viajar por essas regiões e assistirmos aos voos de tais espécies a planarem nos céus, indicando-nos que o território nacional está a ver recuperados ecossistemas anteriormente tão postos em causa?

 

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