Não falta quem ande ainda a atirar foguetes pela vitória do jagunço brasileiro, mas essa euforia tonta tende a conhecer dissabores num prazo muito curto. Olhando para os nomes, que vão sendo conhecidos para integrarem o próximo governo, a conclusão é óbvia: metade dos futuros indigitados têm o aparato dos galões militares, mas são esclarecedores os exemplos passados sobre a incompetência de quem se forma para a guerra convencional sem conhecer o que quer que seja sobre conflitos bem mais complexos nas áreas económicas e financeiras. Os demais imitam os anteriores na carga de preconceitos ideológicos, que lhes formatam as toscas cabeças, mas sem respostas efetivas para os problemas com que se deparam os que neles acreditaram.
Há o boy da Escola de Chicago, mas se as ideias ultraliberais de eliminação de tudo quanto cheire a setor público, para deixar livre a «mão invisível», nunca mostrou mérito nos resultados - por muito que os pinochetianos chilenos continuem em tal crença! - muito menos as revelarão num contexto em que só podem agravar as obscenas desigualdades de rendimentos de que o Brasil já é montra exemplar.
Poderá também haver o carrasco-mor que espezinhou tudo quanto possa considerar-se digno de uma Justiça digna desse nome para incriminar Lula da Silva mas, apesar de dar sinais de se sentir tentado, tenho sérias dúvidas, que acabe por aceitar. É que as classes brasileiras de rendimentos mais altos não admiram, nem sequer confiam no jagunço. Ele apenas lhes serve de idiota útil para conseguirem o pretendido: verem ainda mais empoladas as contas bancárias, que tratarão de manter no recato dos paraísos fiscais, por saberem o quanto em demasia acabam de esticar a corda, que se arriscam a vê-la partir-se num curto prazo, precavendo-se com dourados exílios em bonançosas latitudes.
No curto prazo o novo governo fascista terá de mexer nas condições de acesso à reforma por ser insustentável uma legislação que prevê essa benesse para as mulheres com trinta anos de descontos e para os homens com trinta e cinco. Quer isso dizer que qualquer pessoa que tenha começado a descontar para a Segurança Social com dezoito anos poderá aposentar-se com 48 anos se for mulher, ou 53 se for homem. Ora quantos eleitores do jagunço com essa meta à vista se sentirão defraudados com a mais que certa alteração legislativa? A frustração depressa se substituirá á ilusória alegria.
E que dizer dos muitos milhares de funcionários públicos ou empregados de empresas estatais, que serão ameaçados de desemprego com as privatizações anunciadas e com o encolhimento da dimensão do aparelho administrativo federal? Também aí se esperarão grandes desilusões, passíveis de se transformarem em violentas manifestações de rejeição a tão inesperada realidade para quem acreditara numa verdejante Terra Prometida e a descobrirá sombriamente inóspita.
Perante tudo isto nem vale a pena abordar a oposição que, desde o primeiro dia desse governo, a quase metade dos eleitores, que votaram Haddad assumirá. Deles só se espera que cumpram o compromisso de não desistirem de um país, que dá um enorme passo atrás, mas que, colhidas as lições da má escolha, poderá mais à frente compensar com dois para diante.
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