segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Acabem-se com os punhos de renda


Agora que o jagunço já conseguiu ganhar as eleições brasileiras sem sair de casa nem participar num único debate com Haddad é altura de pensar se as esquerdas podem continuar a manter o perfil baixo, que tem sido o seu perante a ininterrupta ascensão dos ideários fascistas. Nas guerras sempre se cumpriu a regra de, ou ter uma dinâmica ofensiva de vitória, ou optar pela defensiva, invariavelmente condenada a ser derrotada. É por isso que, perante diversos dirigentes do CDS, que se insurgiram contra Cristas por não confessar a simpatia efetiva pelo facínora brasileiro, deveria existir um repúdio firme demonstrando quão se revelam ideologicamente marginais.
Não é, porém, só essa gentalha do partido do táxi, que merece ser apodada de repugnante: qualquer andréventura, que se abalance a cavalgar ondas populistas tem de ser denunciado como um oportunista soez, com um pensamento inaceitável numa sociedade democrática.
O mesmo se diga dos polícias, que tiraram fotografias, insultaram o ministro Eduardo Cabrita nas redes sociais, se fizeram fotografar em amistosa reunião com o chefinho de um dos partidos abertamente fascistas existente entre nós e os que vieram justificar para as televisões as injuriosas fotografias dos três foragidos do Porto como se não lhes fossem reconhecidos direitos de cidadania pelo facto de serem «criminosos» - recorde-se que os polícias não podem substituir-se aos tribunais no julgamento de quem é suspeito de atos ilícitos. E não esqueçamos os que quiseram derrubar as barreiras, que os impediam de aceder à escadaria da Assembleia da República num ato simbólico equivalente a um golpe de Estado. O que falta para que todos esses indivíduos, desmerecedores de envergarem farda policial e de serem respeitados como guardiões da lei da República, sejam objeto de uma mais do que justa depuração?
E que anda o governo a fazer para cumprir o Artigo 46º da Constituição onde é claro o aí definido: “Não são consentidas associações armadas nem de tipo militar, militarizadas ou paramilitares, nem organizações racistas ou que perfilhem a ideologia fascista.”? O que é feito da investigação aos motards, que andaram a semear desacatos há alguns meses atrás e identificados precisamente com esse tipo de organizações proibidas pela Constituição? O que anda a ser feito para acabar com esse ninho de fascistas, que são as claques dos clubes de futebol? Quando é que são mesmo esses mesmos clubes a, por uma questão de higiene, a porem fim a essas hordas de desordeiros? E por quanto tempo mais temos de ser insultados por aquelas matilhas de estudantes em «fardas acadêmicas» (elas próprias símbolos de valores hediondos, que os papás pagam sem o mínimo de sentido crítico), que trazem ao espaço público o espetáculo das praxes, que não deveria ter sido preciso demonstrar no Meco o quão criminosas podem ser, para serem liminarmente proibidas.
Sim! É tempo das esquerdas voltarem a sair das tocas para se lançarem ao ataque de quem as ameaça sem escrúpulo, ora apontando os alvos, como sucedeu com Trump relativamente aos destinatários dos envelopes-bombas da semana transata, ora ameaçando-os diretamente como o fez o ocupante seguinte do Palácio do Planalto. E perante essas direitas extremas, que não se eximem de portarem-se violentamente, não é com punhos de rendas, que se as devem acantonar. O Estado de Direito tem as armas necessárias para as proibir, para as expulsar dos sítios onde andam a ensaiar os assaltos futuros ao poder.

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