segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Artistas, juízes e praxes


1. Nos últimos anos abriram-se novas galerias de exposição em Lisboa, que pressuporiam um mercado pujante  para a arte dos nossos dias.  Erro de cálculo! A grande burguesia, aquela que, quase sempre por empáfia, ia construindo privativas pinacotecas, descobriu-se em perigo com as investigações sobre enriquecimentos ilícitos, mas precavendo-se sobretudo dos riscos crescentes de ver-se denunciada como titular de contas em paraísos fiscais.
Deixou de ser fashion a excessiva ostentação do capital acumulado com a especulação financeira ou imobiliária. Até a autoestrada dos vistos gold, criada por Paulo Portas como alternativa para garantir bons negócios, anda a ganhar má fama ou não tivesse sido denunciada pelas  ONG Transparency International e Global Witness como via ideal para a corrupção. As compras minguaram, ficando em maus lençóis muitos dos que tinham apostado na arte como modo de vida.
A expetativa de solução com a nova ministra da Cultura é condicionada pelos exíguos meios do Estado para substituir-se aos pretéritos colecionadores. Mas convenhamos que, à exceção de Vhils, não se têm conhecido projetos artísticos estimulantes, capazes de nos convencerem dos efetivos méritos de quem os assina. E di-lo quem acompanha com alguma atenção o que consegue transitar dos ateliês para espaços de exposição.
2. Reparo pertinente de Pedro Bacelar de Vasconcelos num artigo de opinião do «Jornal de Notícias» num dos dias da semana transata: “enquanto nos Estados Unidos deparamos com uma despudorada maquinação visando o controlo dos tribunais pelo poder político, no Brasil, inversamente, são os tribunais que intencionalmente interferem na expressão livre da vontade democrática e que promovem, objetivamente, o sucesso do candidato da extrema-direita.”
3. Há uma semana, ao passar de carro pelo topo do Parque Eduardo VII, deparei com o espetáculo degradante de uns quantos rapazes e raparigas, trajados de preto, a humilharem colegas a pretexto da sua «integração« no ambiente académico.
A exemplo do que se passa com as touradas e outras manifestações bárbaras de um certo modo de se ser português - cujo fim anunciado parece sempre iminente, mas vão sobrevivendo por ser inesgotável a estupidez dos seus promotores! - as praxes reduzem-nos a esperança em ver a juventude recuperar o inconformismo de gerações anteriores, quando a vontade de mudar o mundo pressupunha o asco perante a opressão e a solidariedade com todos os oprimidos. Se tantas revoluções, que trouxeram avanços civilizacionais a milhões de seres humanos, tiveram nas juventudes o seu motor, elas tardam em retomar o testemunho dos que nunca desistem de exigir um mundo novo a sério...

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