quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Dois néscios a fazerem Centeno perder um bom par de horas de trabalho


Em condições normais não me daria a esse trabalho mas, ontem à tarde, ao chegar a casa, e ao ler alguns comentários no facebook sobre o sucedido na Comissão Parlamentar onde Mário Centeno apresentara a proposta de Orçamento para 2019, tive de procurar o debate no canal da Assembleia da República para melhor compreender o que algumas vozes avisadas iam constatando.
Infelizmente, no domínio da arte da retórica, o ministro ainda não conseguiu que ela se lhe equiparasse à  que revela com os números das despesas e das receitas do Estado.  Melhorou muito, mas ainda não o suficiente para que os deputados das direitas sofressem o achincalhamento que mereciam. De facto Centeno apresentou argumentos, que tenho sérias dúvidas se a tonta do CDS sequer os entendeu pela rama.
Não nos apressemos, porém. Quando compareceu perante os deputados Centeno estava na posição muito favorável de, nos três exercícios anteriores sempre ter acertado em todas as contas, apesar dos vaticínios desfavoráveis que elas tinham tido previamente. Os «expertos» do FMI, da Comissão Europeia, do cenáculo da dona Teodora ou os técnicos «independentes» da Assembleia da República passaram pelas sucessivas vergonhas de terem disparado para um alvo, que lhes ficara muito ao lado. Por isso mesmo, quando o melhor argumento das direitas eram as dúvidas da UTAO, estavam a pôr-se a jeito para serem desconsideradas como meras cábulas.
Centeno tinha, porém, artilharia pesada com que lhes responder às patranhas: entre 2015 e 2019, Portugal cresce 16%, o rendimento disponível das famílias e as remunerações sobem 18% e o défice encolhe 7.500 milhões de euros. Desmentindo todas as anedotas sobre economistas incapazes de preverem o futuro, porque apenas  competentes para explicarem o que terá corrido mal, as previsões coincidiram  quase à casa decimal face às metas que constavam do cenário macroeconómico preparado pelo grupo de trabalho do PS em 2015.
Perante tal evidência, que podiam arguir o PSD e o CDS?
Duarte Pacheco tentou defender com brio as hostes laranjas, mas o desmascaramento da desfaçatez do seu discursar foi feito pelo trocista Rocha Andrade: se aos quatro minutos da sua intervenção o deputado do Sobral de Monte Agraço denunciava o orçamento como uma orgia eleitoralista, aos cinco já exigia gastos acrescidos com mais um conjunto de medidas nele não contempladas. No que se tornaria então? Num bacanal? A galhofa estava garantida à conta do pobre deputado da bancada opositora...
Muito, mas muito pior, foi a opção do CDS escolhendo como contentora a medíocre Cecília Meireles, que nem sequer possui formação de economista. O que lhe faltou em conhecimento, tentou compensar em mimetizar o estilo de peixeira da sua líder, levantando os decibéis da voz para iludir a pequenez minúscula dos seus considerandos. Ao assistir à sua confrangedora intervenção percebe-se perfeitamente porque, escolhida para secretária de Estado do Turismo do governo anterior, teve de ser apressadamente substituída por Adolfo Mesquita Nunes para não estragar mais do que o vinha fazendo até aí. Ou porque concorrendo à liderança da Distrital do Porto viu-se humilhantemente derrotada porque, apesar de apoiada ativamente por Cristas, faltava de pachorra os seus compinchas de partido para a aturarem.
Conclusão óbvia da sessão parlamentar: Centeno a demonstrar todas as virtudes da ação governativa perante deputados - que no caso dos das direitas - só o fizeram perder umas boas horas de trabalho.

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