quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

O periclitante castelo de cartas a estremecer

 


A decisão da Câmara dos Representantes dos EUA em ter aberto um novo processo para o impeachment de Donald Trump é apresentada como motivada pela necessidade de obstar-lhe a recandidatura ao cargo em 2024. Mas será essa a verdadeira razão? Provavelmente não se dirá a que se esconde nas mentes dos democratas, mas ela esclarecer-se-á nos próximos meses.

Se, a exemplo de Hitler no seu bunker - numa deliciosa comparação formulada por Boaventura Sousa Santos num texto do blogue «Outras Palavras» - Trump entrou na fase delirante de negar a realidade teimando não ter perdido as eleições com a mesma veemência com que o ditador alemão recusava acreditar que o Exército Vermelho estava a dez quilómetros de distância, foi por esperar um derradeiro milagre capaz de o salvar da incontornável derrota. Ao incitar as turbas à conquista do Capitólio terá acreditado, que o Exército o secundaria e lhe permitiria a declaração da lei marcial. Só assim se explica que, dias antes, todos os Secretários da Defesa ligados às anteriores Administrações - incluindo as dos Bush! - solicitassem às Forças Armadas o alheamento total em relação ao que se adivinhava vir a acontecer.

A rendição final de Trump, aconselhando os apoiantes a irem para casa, foi o reconhecimento do falhanço da derradeira estratégia em que poderia encontrar alguma saída a seu contento. Não tendo sucedido ei-lo perante o que mais receia: olhar para o verdadeiro castelo de cartas em que pode metaforizar-se o seu «império económico» e sabê-lo de volta à bancarrota, que só a sua eleição para a Casa Branca pôde evitar. Daí que o novo impeachment não tenha a ver com as eleições seguintes, onde já não terá qualquer desempenho: sendo tão importante para a economia capitalista a imagem de uma marca, a sua defenestração equivalerá a apenas apressar a pressentida derrocada.

Significará esse acontecimento o crepúsculo da extrema-direita norte-americana? Provavelmente não, porque mantêm-se os fatores, que justificam a atração de camadas frustradas com a negação do sonho americano e a subsequente atração pela demagogia dos seus prosélitos! Mas dificilmente encontrarão tão hábil vendedor da banha da cobra! Algo que confirmaremos ou não nos anos vindouros.

Sem comentários:

Enviar um comentário