Se olharmos para os resultados eleitorais da noite passada será que o mar está mais alto do que a terra? Será que vem aí um tsunami fascizante liderado pela ignóbil criatura, que conseguiu atrair meio milhão de eleitores? Tenhamos calma que a mesma instituição, que deu a sondagem mais aproximada da realidade - a Católica - também aproveitou para saber em quem os portugueses votariam nas legislativas se elas tivessem coincidido com as presidenciais e o resultado é claro: as esquerdas manter-se-iam inamovíveis nos 50% enquanto as direitas somariam 36% ou seja nada de diferente em relação ao que vem sucedendo desde 2015.
É verdade que o partido da ignóbil criatura teria 9%, mas será assim tão espantoso que um em cada dez portugueses ande iludido pelo ideário fascista? Convenhamos que só nas nossas melhores conjeturas poderíamos olhar à volta e dispensar-nos de pensar que por ali circulam uns crápulas merecedores do nosso mais arreigado ostracismo. Mas, mesmo esses 9% serão sustentáveis? Claro que não! Embora vários patamares de delírio tenham levado alguns representantes partidários a invocarem grandes vitórias para os seus partidos - o Chicão do CDS, o Cotrim da Iniciativa Liberal, o Rio do PSD e o André Silva do PAN - só um partido pode reivindicar a vitória no escrutínio de ontem, juntando-se a Marcelo no pódio dos vencedores: o Partido Socialista. De facto, António Costa faz quase o pleno nos dividendos a retirar dos resultados verificados: conta com um presidente de direita, que poderá aqui e além soltar uns desabafos, mas que não tem uma massa social de apoio, que o leve a virar a situação em favor do seu campo. Até por o ter tão fragmentado que, prudente como é, sabe preferível manter o estado das coisas do que ver-se com um menino nos braços com demasiadas birras para conseguir suportá-lo (daí a exigência de um acordo escrito se lhe apresentassem uma alternativa com a inclusão da ignóbil criatura). Tem à sua esquerda duas forças políticas fadadas para a assertividade na negociação dos orçamentos por adivinharem o quanto poderiam ficar enfraquecidas com legislativas antecipadas. O péssimo resultado de Marisa Matias mostra bem como podem voltar a custar demasiado caras essas votações conjuntas com as direitas. E Ana Gomes voltará ao olvido em que já mergulhou Maria de Belém, tanto mais que na sua derradeira declaração não se eximiu de ser igual a si mesma: fazer do primeiro-ministro o principal bombo da festa.
Faltando três anos para as próximas legislativas não será difícil adivinhar que, acantonado no seu lugar parlamentar, o terceiro mais votado de ontem, entrará num processo de desgaste para o qual contribuirá a continuação das muitas lutas internas no seu partido tal qual a recente reportagem de Pedro Coelho na SIC no-las demonstrou inevitáveis e que reduzirá a migalhas a sua presente condição de epifenómeno. E os milhões da Europa, sabiamente investidos por um governo de incomparável competência, permitirá chegar a essas legislativas com condições para manter a dinâmica imprimida desde 2015. E desejavelmente com o Bloco e a CDU a recolherem igualmente dividendos da participação numa tácita geringonça.
Parece que os delírios não se limitam a Rio e ao Chicão. Também incluem Carlos César.
ResponderEliminarE o Jorge Rocha, pelos vistos.
A gestão da pandemia está a correr mal e vai correr pior. Costa tem que atender à frente europeia e à interna, e a si as sondagens deixam-no descansado?