quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Exílios, vigarices e anãs brancas

 


1. Parece ser consensual a ideia de que o covid-19 deu apreciável ajuda para que Donald Trump se visse exilado na faustosa mansão de Mar-o-Lago. Não tivesse surgido a pandemia e, provavelmente, os números da economia norte-americana explorados só no que permitiriam a sua leitura enviesada - a do crescimento dos índices bolsistas e do enriquecimento dos mais abonados! -  iludiria as vítimas dos outros indicadores mais comprometedores - o dos índices de pobreza, de estagnação dos salários e da acumulação de empregos para se conseguir enganar a fome com junkie food -  a votarem em mais do mesmo. Nesse sentido, e apesar dos milhões de vítimas que o malfadado vírus já ceifou, podemos ter de agradecer-lhe por nos livrar de um mal ainda maior como o seria o fascismo solidamente implantado na Casa Branca.

Agora só temos de esperar por que outra ameaça não menos assustadora - a do aquecimento global - cumpra o que tem acontecido nos últimos anos na região de Miami: furacões cada vez mais destruidores e a inundação das zonas mais próximas da água como sucede com a referida mansão. A não acontecer talvez ele tenha de agradecer o facto de Biden voltar aos Acordos de Paris, as medidas urgentes neles previstas ganhem velocidade e nos poupe a todos dos cenários apocalíticos, que alguns anteveem.

2. Que comovido estava o deputado Baptista Leite, quando as televisões passaram o seu relato, em primeira mão, de um turno para que se voluntariou no hospital de Cascais. Quantos se terão iludido com a súbita entrega daquele que é um dos principais colaboradores de Rui Rio em voltar ao seu ofício de médico e fazer algo em prol dos que sofrem. Mortes por covid alegou ele ter visto mais do que muitas. Acentuando esse pedido de admiração por tão generosa dádiva de si mesmo ao bem coletivo.

Afinal sabe-se agora que terá sido ação de propaganda organizada com alguma falta de sensatez, porque a notícia inicial logo viria a ser corrigida dias depois: que no turno em que estivera de serviço apenas um doente morrera de covid desmentindo o alarmismo interesseiro de quem o lançava.

3. A ignóbil criatura não disfarça o quanto anda nervoso. Não só sente o isolamento por não recolher mais apoios do que daquela camada muito minoritária da população que sempre teve o fascismo no sangue e dele o não consegue erradicar - as sondagens apontam para algo entre os 5 e os 10% - como sente crescer o número dos que não se privam de organizar ações de denúncia do seu abjeto pensamento e lho dizem na cara. Daí a vitimização, a denúncia ridícula de conspirações contra si, que só ele e os indefetíveis acreditam, ou até o crasso erro de interromper uma cerimónia religiosa e dela ser corrido a título de intrusão indesculpável. Se quis ser estrela no firmamento político nacional, está rapidamente a converter-se numa espécie de anã branca, a mais adequada a quem assume afinal propósitos descaradamente racistas...

 

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