terça-feira, 19 de janeiro de 2021

É melhor ter Biden na Casa Branca, mas não alimentemos ilusões

 


Está marcada para amanhã a tomada de posse de Joe Biden como 46º presidente dos Estados Unidos e não falta quem teça sobre a sua governação as mais desregradas ilusões. O que não seria a primeira vez: logo no início do primeiro mandato de Barack Obama a Academia Sueca atribuiu-lhe o Nobel da Paz, quando ele viria, afinal, revelar-se um «falcão» igual aos antecessores, não enjeitando ações militares e bombas à distância para garantir a predominância norte-americana onde mais lhe interessava.

Com Joe Biden não vai ser diferente. Senão atenhamo-nos ao que proclamou a 24 de novembro de 2020, quando a sua vitória já só era questionada pelos trogloditas trumpistas: “A América está de regresso, pronta para dirigir o mundo”.

Estamos, porventura, interessados em que assim seja? Decerto que não! Só nos interessa que os Estados Unidos tenham a mesma decência que, em tempos, conhecemos durante a Administração de Jimmy Carter que, ainda hoje, se orgulha de, no seu mandato, não ter promovido nenhum ação militar fora do território norte-americano. E se o Irão de Khomeini, ao fazer reféns no ataque à embaixada em Teerão estava mesmo a pedi-las!

Na União Europeia alimenta-se a esperança de se voltarem aos tempos da harmonia transatlântica, que volte a dar gás à globalização e facilite os negócios dos grandes grupos económicos, por muito que sejam sobretudo os alemães a com eles beneficiarem. Ursula van der Layen até já sugeriu ser garantida de livre vontade a tal canalização dos 2% do orçamento de cada país para a NATO, reticentemente aceite quando Trump a exigiu. Quer isto dizer que podemos não ter suficientes recursos financeiros para fortalecermos o Serviço Nacional de Saúde ou dar á Cultura a importância, que merece, mas de Bruxelas virão as pressões suficientes para que Portugal canalize verbas para uma organização de que não recolhe qualquer benefício.

Não teremos de esperar muito tempo para que nos dececionemos com uma Administração da Casa Branca que só tem de positivo o pôr fim ao protofascismo de Trump. Tão só ocupando o Salão Oval, Biden não deixará de se focalizar na forma de obviar ao facto de, entre as grandes potências económicas, só a China ter visto o seu PIB crescer em 2020. O que dará ensejo a tensões militares significativas nas áreas onde americanos e chineses estiverem a disputar a primazia geopolítica.

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