A ignóbil criatura

 

Se com a coca-cola podia-se-lhe estranhar primeiro o gosto para depois a naturalmente entranhar (Fernando Pessoa dixit) não é isso  que tenderá a suceder com a ignóbil criatura. Se primeiro a estranhámos no descaramento das atoardas fascistas - embora o Pardal dos camionistas já viesse servir de balão de ensaio para afinar a estratégia subsequente! - o perigo da sua normalização vai-se esvaindo à medida que vai entrando em fase delirante. O esqueleto surgido das profundezas do palco de Serpa mais não é do que o anúncio do destino político próximo. Porque quem acredita quando afirma ter ganho todos os debates da campanha? Quão absurda é a possibilidade de, conforme afiança, ter mais votos do que a soma dos confiados a João Ferreira, Marisa Matias ou Ana Gomes? E por quanto tempo mais durarão as guerras intestinas entre os seus apoiantes quando descobrirem diminuta a bancada parlamentar, que ansiariam farta após as próximas legislativas e onde escassos entre eles terão assento?

Por algum tempo vigora a lógica do falem muito de mim, porque mal ou bem, o importante é que falem. A sucessão de denúncias das suas inequívocas ligações a interesses obscuros e o desmascaramento do que visa verdadeiramente acabará por dar algum pingo de lucidez aos muitos frustrados, que nele terão visto uma espécie de redentor sebastião vindo do nevoeiro profundo para impor um ideal de Deus, Pátria e Autoridade, que julgam carregado de virtudes.  Por quanto tempo aguentarão ser associados à cáfila de bestas quadradas, que defenderão a criatura até ela rebentar qual sapo incapaz de crescer á dimensão taurina?