Parafraseando a velha fórmula maoísta mantenho a convicção de ser André Ventura uma espécie de tigre de papel: pode parecer ameaçador na forma, mas o conteúdo é mínimo e a malignidade reduzida à sua conhecida expressão. Basta olhar para a sondagem da Aximage, que dá 8% como total do Chega com o CDS, mas em que este último se queda pelos 0,3% dos votos. Está bem de ver que o Chicão conseguiu aquilo que já se pressentia com a antecessora: fartos de ver goradas as suas expetativas, os portugueses de índole mais fascizante transferiram-se gratamente para quem lhes dava o ensejo de serem como sempre foram sem cuidarem de manter o incómodo disfarce democrático.
São muitos os 8%, quiçá os mais 3,5% dos ultraliberais? São claro, mas não podemos ambicionar que os portugueses sejam todos pessoas de bem. Basta-nos consolar-nos com a ideia de serem mais de 52% os que se reconhecem em partidos de esquerda, suficientes pois para manterem o rumo trilhado desde 2015, quando se pôs travão à deriva pretendida por Passos Coelho e Paulo Portas.
Que há idiotas irrecuperáveis comprovamo-lo por exemplo nos Estados norte-americanos dos Dakotas (do Norte e do Sul), onde mais de 60% votaram em Trump e onde as populações rurais estão a ser devastadas pelo covid 19. Um em cada 800 habitantes num dos casos, ou um em cada mil no outro, em ambos os Estados a morte tem cerceado vidas e põe os hospitais numa situação completamente descontrolada. E, no entanto, a maioria dos que ainda não foram atingidos pela pandemia continuam a rejeitar o uso de máscaras, insultando e agredindo os seus representantes locais ou estaduais, quando pretendem aprovar a sua obrigatoriedade. Ademais há médicos e enfermeiras a demitirem-se dos hospitais, porque não conseguem dar conta do recado e ainda se veem amesquinhados pelo silêncio a que vizinhos e conhecidos os sujeitam por, timidamente, aconselharem essas medidas básicas de proteção. Há mesmo gente - nos Dakotas e nos apoiantes do Chega - que nem são propriamente talas o que lhes impede de terem vistas mais largas. Elas tapam-lhes verdadeiramente a realidade, que não querem ver...
Caso igualmente importante de miopia é o dos que depois de terem andado a secundar as campanhas das direitas para forçarem a demissão de Eduardo Cabrita, procuram compensar a frustração dando alguma razão aos argumentos invocados para pôr em causa a ministra Francisca Van Dunem. Os métodos dos criadores dessas campanhas - que levaram em tempos às demissões de Constança Urbano de Sousa e de Azeredo Lopes - são os mesmos e lembram uma famosa quadra do poeta Aleixo: “P'ra mentira ser segura/ e atingir profundidade,/ tem que trazer à mistura/ qualquer coisa de verdade.” Até pode, de facto, ser verdade que algum funcionário do ministério tenha cometido umas falhas menores sem qualquer conhecimento da titular, mas isso não impede que José Eduardo Guerra fosse o escolhido pelo Conselho Superior do Ministério Público para exercer o cargo de procurador europeu. O problema é que as direitas não se conformam com o facto de terem perdido a exclusividade no acesso a cargos donde podem indiretamente condicionar os rumos políticos do país. Senão veja-se quem é um dos dois juízes, que estão a bloquear a tomada de posse dos indigitados para os cargos de presidentes das três comarcas do Supremo na Grande Lisboa: esse Rui Teixeira que foi o autor do ato indigno de ir prender Paulo Pedroso à Assembleia da República por alegada acusação, que nenhum tribunal viria a sancionar por ser uma mentira escandalosa, mas bastante para ele criar uma fama semelhante à que, anos depois, Carlos Alexandre viria igualmente almejar.
Agora só podemos espantarmo-nos com o facto de, depois de tão ignóbil postura, esse juiz tenha prosseguido carreira sem sofrer as consequências da sua indignidade.
Por acaso, considero que a inércia de Cabrita o obrigava mesmo a demitir-se. Não se concebe como não exigiu imediatamente a demissão da Directora-Geral (é um claro caso de responsabilidade política) e ainda se entende menos porque nada foi feito desde que a Provedora de Justiça, há uns 3 anos, creio, veio avisar o MAI de que o Centro de Acolhimento da Portela não tinha condições para continuar aberto. Foi precisa a morte ignominiosa do cidadão ucraniano para ser imediatamente fechado.
ResponderEliminarCaso bem distinto, bem entendido, é o da MJ...