sábado, 23 de janeiro de 2021

Bem podem ir dar banho ao cão

 


Compreende-se o estado de alma de Rui Rio que, qual barata tonta com a evolução desfavorável das sondagens, investe-se na função de franco-atirador em todas as direções tão-só pressinta ser aquela por onde o ágil António Costa vai passando na dinâmica própria de quem tem um país em crise económica e sanitária para gerir e a todos os seus efeitos vai correspondendo com as medidas a cada momento mais sensatas.

Bastou sentir-se tentado pelo cheirinho a poder, que os Açores lhe propiciaram para mandar às malvas a última linha vermelha, que deveria eximir-se de cruzar. Se as coisas não iam bem, pior ficaram desde então. Dando gás à besta, ela cresceu a dimensão tal que, se quiser aspirar ao poder, terá de com ela necessariamente privar. Sabendo-a isenta de escrúpulos morais e por isso mesmo sempre disposta a estender-lhe as cascas de banana bastantes para tropeçar, depois cair e vê-la tomar-lhe o lugar. Ele próprio eivado de tentações autoritárias - vide o seu comportamento na Câmara do Porto - Rio não percebeu que nunca se deve ser complacente com o fascismo. Porque, como dizia Sandro Pertini numa frase que alguém muito oportunamente lembrou nas redes sociais, não se trata de uma ideia política, de uma ideologia. Porque á a morte de todas elas. Agora nem sequer Paulo Rangel se mostra disposto a ajudá-lo na tarefa de recuperar do último desaire eleitoral ao escusar-se a concorrer à autarquia que, em tempos, foi dele.

Perante os previsíveis descalabros futuros leem-se diversos colunistas das direitas a angustiarem-se com a provável perdurabilidade dos socialistas no poder. Porque as suas trincheiras fragmentaram-se e à falta de visões para o futuro respondem alguns dos seus medíocres ideólogos com receitas passadas - desde as abertamente totalitárias às ultraliberais sem esquecer as de cunho mais estatista na lógica salazarenta - todas rotundamente fracassadas no passado, mesmo sendo outras as condições sociais e económicas que agora as tornam completamente inexequíveis.

Bem podem alguns falar do desnorte do governo perante a pandemia (qual outro conseguiria maior controle numa situação tão instável?), do cansaço dos ministros ou do pressentido pântano em tempos referido por Guterres: são desabafos de quem se sabe incapaz de sequer chegar ao Peter do conhecido princípio já que os portugueses teimam em não deixá-los testarem a certa incompetência. E há quem espere que de conversas telefónicas ilegitimamente gravadas surjam hipóteses de enlear António Costa no mesmo tipo de armadilha intentada contra dirigentes socialistas por procuradores sempre contra eles vocacionados. Bem podem ir dar banho ao cão...

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