Como será a relação de carlos costa com o primeiro-ministro, que tomará posse após as próximas eleições? Pode vir a ser eivada de hipocrisia, mas lá bem no fundo o renomeado governador do Banco de Portugal não deixa de ser um político - repito, um político! - laranja, que aí ficará mais cinco anos para fazer favores ao seu partido. Pelo menos é essa a ilação, que se pode tirar de toda a lamentável cambalhota dada por uns quantos deputados do PSD e do CDS, que aprovaram um relatório parlamentar extremamente crítico a seu respeito e depois o levaram em ombros elogiando as “qualidades” justificativas para manter o lugar.
Essa renomeação também diz muito sobre a personalidade do escolhido. Que sentido de probidade tem carlos costa para se manter em funções depois de ter sido um dos maiores responsáveis pelo descalabro a que chegou o BES deixando falidas numerosas famílias de pequenos investidores e a generalidade dos portugueses a pagarem o dinheiro em falta entre o que o Estado pôs no Novo Banco e o que auferirá com a sua venda aos chineses ou aos norte-americanos? E isso para não falar dos custos, que esses mesmos contribuintes arcarão, quando os tribunais começarem a obrigar ao pagamento das indemnizações nos imensos processos de litigância que iremos ver resolvidos nas barras dos tribunais.
Se à mulher de César não bastava ser séria, também teria de parece-lo, carlos costa revela uma personalidade sem qualidades para exercer o cargo de governador do Banco de Portugal. Porque tecnicamente errou em toda a linha - onde está o sinistro nuno melo para repetir as arengas em tempos dirigidas a Vítor Constâncio? - e, sobretudo, pelo carácter de moço de fretes de uma direita, que esperará vê-lo influenciar as decisões e os relatórios da instituição para semear a governação do próximo governo de obstáculos, que os opinadores do costume reduzirão a atitudes “insuspeitáveis”.
Sem deter ainda a legitimidade para impedir essa renomeação, António Costa não deixou de a criticar contundentemente: “Nós já tivemos oportunidade de dizer que consideramos absolutamente lamentável que, a três meses de eleições, se tenha procedido à nomeação de uma pessoa para liderar uma instituição que tem de estar acima de qualquer dúvida, que tem de ser uma marca de imparcialidade, de isenção e de confiança dos portugueses, sem que isso tenha sido objeto da concertação mínima, como deveria ser e como tem, tradicionalmente, sempre acontecido”.
E já avisou sobre a falta de confiança, que lhe merecerá tal interlocutor numa das mais importantes instituições do Estado: “É um gravíssimo erro do senhor governador achar que basta ter a confiança da ministra da s Finanças e do primeiro-ministro para merecer a confiança dos portugueses. E hoje, mais do que nunca, era fundamental que os portugueses pudessem ter uma confiança plena no Banco de Portugal e no seu governador”.
Esperemos que o responsável pelo veto da nomeação de Mário Centeno para o departamento de Estudos do Banco, para o qual não tinha concorrentes à altura das suas reconhecidas competências, sinta-se pouco confortável com as ações lançadas pelos lesados do BES e sinta um súbito terramoto político, social e judicial, retirá-lo da cadeira.
É que passos coelho armadilhou tanto a máquina do Estado, que um a um os seus peões terão de ser afastados para tornar possível a implementação da ambiciosa Agenda para a Década...
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