Há dias escrevia aqui no blogue, que estava a sentir uma progressiva mutação dos sentimentos europeístas assumidos desde a entrada de Portugal na então CEE para uma posição tendencialmente eurocética.
Dizia nesse texto, que não conto viver numa Europa comandada pelas ideias de schäuble e passarei nesse caso a militar pela saída de Portugal da União Europeia.
Se em tempos vira com bons olhos a abdicação de importantes fatias de soberania em proveito de uma Europa orientada pelos princípios da democracia e da solidariedade, o sucedido com a Grécia demonstrou a ingenuidade de ter acreditado na prevalência dos valores sobre os dos egoísmos económicos.
É por isso mesmo que estou quase totalmente de acordo com o texto assinado por Miguel Sousa Tavares no «Expresso» deste sábado, quando formula todas as reticências que lhe colocam hoje os interesses alemães: “Há muito que eu tenho dúvidas de que a Alemanha esteja interessada no projeto europeu — que nasceu para nos proteger da Alemanha e para proteger a Alemanha de si própria e dos seus demónios. No fundo, é o velho dilema alemão: demasiado grande para a Europa, demasiado pequena para o mundo. Julgo que só lhe interessa a Europa na medida em que for ela a ditar as regras e a colher o grosso dos lucros. E, apesar de ter sido e ser o grande financiador das necessidades e dos desastres alheios, ninguém também ganhou tanto com a Europa, e com os sucessivos e desastrosos alargamentos a leste, impulsionados por Berlim, como a Alemanha. Ganhou com os fundos comunitários, que funcionaram como uma espécie de Plano Marshall a favor das empresas alemãs; ganhou com o euro, impondo as regras comuns que lhe interessavam e boicotando as que não lhe interessam; ganhou com o endividamento da Grécia — e os seus bancos ganharam tanto e tão avidamente que foi preciso um segundo resgate à Grécia, que, na verdade, foi um resgate à banca alemã e aos créditos incobráveis que esta detinha na Grécia.”
O que uma grande parte da opinião pública internacional concluiu sobre o sucedido há uma semana foi que Tsipras se viu forçado a capitular perante uma chantagem, que significa uma pilhagem do seu país ao estilo do que sucedia na Idade Média.
Daí que o colunista do «Expresso» conclua ser tempo de, prevenidamente, discutirmos se valerá a pena permanecermos no euro demonstrada que está a inevitabilidade de se tratar de uma armadilha para os países mais fracos, sujeitos a progressiva desigualdade de condições de competitividade com os mais fortes.
António Costa promete respeitar as regras, mas não desistir de as mudar. Mas é, agora, presumível, que a Alemanha nunca as deixe alterar em seu desfavor, por muito que Helmut Schmidt ande a alertar para o sentimento antialemão, que está a crescer por toda a Europa. E que poderá vir a demonstrar a merkel e seus aliados, como a força da arrogância traz consigo o contraponto do sofrimento para o povo alemão. Como a História demonstrou no século XX.
Pessoalmente, a minha tendência de europeísta para eurocético está rapidamente a evoluir para a de germanófobo. O que, na versão mais suave, implica o boicote aos produtos alemães, mas na menos paciente implicará a participação em manifestações e outras ações de repúdio contra os regressados demónios, que se julgariam aferrolhados a sete chaves depois do descalabro nazi...
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