Uma das singularidades maiores do nosso tempo é a da aliança estratégica dos governos ocidentais com regimes islâmicos, que aparentam urbanidade no relacionamento diplomático, mas na sombra financiam o terrorismo nas suas diversas vertentes, desde a da al Qaeda até à do Daesh.
A “amizade” entre as autoridades norte-americanos, sauditas ou qataris tem facilitado a inqualificável opressão desses regimes contra as mulheres em particular e contra a maioria das suas populações em geral.
Pelo contrario onde a laicidade tinha força de lei e as mulheres iam usufruindo de uma maior afinidade com o tipo de direitos reconhecidos no Ocidente, os respetivos regimes - seja o da Saddam Hussein, de Kadhafi ou de Assad - foram ou estão a ser objeto de sabotagem pela Casa Branca e seus aliados da NATO.
Esta organização militar, que deveria ter sido desmantelada logo após a queda do Muro de Berlim, tomou agora a decisão de apoiar o ditador Erdogan contra os curdos, a pretexto de combater o Daesh.
Ora, há muito se sabe, que o regime turco foi o principal apoiante dos jiadistas anti-Assad. Sem a ajuda de Ancara nunca o autodesignado Estado Islâmico teria conseguido as fulgurantes vitórias militares na Síria ou no Iraque. Mais ainda, se este movimento terrorista começou a recuar nos últimos meses muito se deve ao heroísmo dos peshmergas curdos, que os combateram tenazmente e lhes infligiram sucessivas derrotas. Pode-se dizer que, sem os curdos, a Casa Branca poderia estar a confrontar-se com uma situação ainda mais explosiva no Médio Oriente do que a já conhecida.
Ora, tendo em conta as afinidades dos curdos com o Ocidente seria lógico que os governos de Washington e da União Europeia os apoiassem no projeto, há muito acalentado, de terem o seu próprio Estado, juntando as regiões do Iraque, da Síria ou da Turquia onde são maioritários.
A reunião da NATO desta semana decidiu em contrário: em vez de castigar Erdogan pelas suas derivas antidemocráticas, decidiu apoiá-lo no combate contra os jiadistas do Daesh e contra os curdos. Como se passasse a prescindir destes últimos numa zona geográfica onde têm sido determinantes.
Para Erdogan os cálculos não são difíceis de fazer: com este apoio do Ocidente poderá ilegalizar o partido pró-curdo que conseguiu 13% nas recentes eleições legislativas e ver facilitado o regresso à maioria absoluta com que criará os mecanismos impeditivos de voltar a ver contestados os seus poderes autocráticos.
O que a NATO decidiu esta semana foi dar carta branca à ditadura turca - abalada pela sua recente derrota - para expressar-se na sua brutalidade mais extrema e impedir que as oposições voltem a desafia-la democraticamente nos próximos anos.
Como de costume a NATO e os governos, que a constituem, desprezam as forças com potencial para implementar a democracia nos seus países, e dão cobertura às ditaduras islâmicas para continuarem a espezinhar os valores democráticos...
Sem comentários:
Enviar um comentário