A capa da edição de hoje do «Libération» fala por si: «A quoi joue l’Allemagne?». Ou seja, o que se esconde por trás da posição de dureza ostentada pela Alemanha nas cimeiras europeias deste fim-de-semana e que visou claramente a saída dos gregos da zona euro?
Varoufakis, no seu blogue, afiança que o próprio schäuble lhe terá dito preto no branco que a Grécia não teria cabimento na União Europeia, por ele proximamente modelada segundo as suas ideias.
Será esse o desiderato das longas negociações, que já partiram a União em duas frentes? A da Alemanha e seus aliados, que querem correr com os gregos como forma de punição por não se terem acobardado ao seu diktat, e franceses e italianos a apostarem na posição oposta, em coerência com a posição expressa na reunião dos socialistas e sociais democratas europeus, que exigiram a continuidade da nação helénica na zona euro.
Como escrevia Miguel Sousa Tavares no «Expresso» ”parece estarmos, de facto, a caminho de uma Europa chefiada por um diretório dos grandes países e seus aliados, os únicos onde a vontade manifestada pelos eleitores tem importância. Aos pequenos países, restar-lhes-ia apenas tentar sobreviver num espaço comum onde, à desigualdade das condições financeiras, fiscais e laborais, se viria sobrepor uma desigualdade estrutural de representatividade e peso politico. Seriam “sleeping partners” numa empreitada que, de comum, já pouco teria.”
Se é essa a Europa que o futuro nos reserva, então, lamento confessar que, enquanto europeísta convicto desde 1985, recusar-me-ei a fazer dela parte e participarei em todos os esforços políticos para recuperarmos a tal soberania, que a srª merkel nos pretende ainda mais sonegar.
Porque, citando Daniel Oliveira no mesmo jornal, “é fácil o patriotismo da soberba do poderoso que humilha o mais fraco sem o risco de sofrer qualquer consequência. Difícil, merecedor de admiração, é o patriotismo de povos acossados. A teimosia patriótica de quem resiste a um cerco, deu aos gregos o que tem faltado aos cidadãos que, em vários países, assistem paralisados à asfixia das suas democracias: um sentimento de pertença “
Se esse futuro for ditado por schäuble eu rejeito qualquer sentimento de pertença com alemães, finlandeses ou bálticos, que desconhecem visivelmente o sentido das palavras “solidariedade” ou sequer «humanismo”.
Como socialista espero que António Costa tenha razão quando assume como estratégia “cumprir as regras europeias tal como estão, mas sem desistir de as mudar.”
O que está por constatar é, se depois do que suceder ao longo desta semana, ainda valerá a pena mudar alguma coisa numa organização , que viu pervertidos todos os valores fundamentais em que se sustentou a sua criação...
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