Faltam quatro meses para a nova conferência sobre as alterações climáticas, a decorrer em Paris, e as expetativas são muito mitigadas. Parece formar-se um consenso em torno de uma inflexão nas emissões de gases de estufa a partir de 2030, quando já abundam opiniões científicas em como poderá entrar-se numa situação sem retorno se esse objetivo não for atingido em 2020.
No máximo a Terra conseguirá ainda suportar um aumento de 1,5ºC, ou seja metade dos 3ºC que poderão ser uma realidade no final do século. Um agravamento dessa dimensão implicará consequências imprevisíveis, que terão efeitos nefastos na sobrevivência da espécie humana.
Em janeiro a revista «Nature» publicou um texto, segundo o qual seria necessário prescindir de 50 a 80% das reservas de hidrocarbonetos e carboníferas existentes para que a temperatura aumentasse menos de 2º C. Por isso considerava fundamental, que se pusesse termo à vampirização do subsolo tal qual tem acontecido aceleradamente nas décadas mais recentes.
Para Christophe Bonneuil, um historiador particularmente inquieto com todo este panorama, é falacioso o argumento de ser expectável um contributo de novas tecnologias de manipulação do clima, cuja investigação anda a ser subsidiada por oligopólios da dimensão a Google ou da Microsoft. Algumas dessas soluções são incrivelmente delirantes: espelhos instalados em satélites para refletirem uma parte da radiação solar, impedindo-a de chegar à estratosfera; enriquecimento das águas oceânicas com ferro a fim de decuplicarem os efeitos de fotossíntese; injeção de enxofre na atmosfera para limitar o impacto dos raios solares; e até um foguetão capaz de afastar a Terra do Sol para que se torne mais fresca.
Christophe Bonneuil constata a singularidade de serem os outrora tenazes opositores à ideia de um aquecimento global os mais entusiastas a respeito destas possibilidades mirabolantes. Mas também rejeita que se atribua a toda a humanidade a responsabilidade de estancar as condições desse aquecimento: os países mais pobres do planeta emitem mil vezes menos gases de estufa do que os mais ricos e 2/3 do carbono rejeitado para a atmosfera provém de apenas 90 grandes empresas internacionais.
Daí que, também, nesta matéria, seja o capitalismo o sistema a colocar no banco dos réus e a ser o mais urgentemente possível, execrado em proveito de formas de produção, distribuição e de consumo mais conformes com a especificidade das condições atuais do nosso planeta...
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