Há muitos amigos, que me confessam o receio de ver a coligação de direita voltar a ser poder nos próximos quatro anos. Ou que receiam a possibilidade de não haver para o Partido Socialista a tal maioria necessária à viabilização da sua Agenda para a Década.
Eu mantenho aquilo que tenho dito: a maioria absoluta é possível, e depois da apresentação do programa de governo pelo PAF, ainda mais provável.
A razão? Estará por demonstrar a viabilidade de sucesso de uma campanha pela negativa. Ao fazer do PS um monstro equiparado a uma personagem maléfica de um filme de terror, a coligação está-lhe a fazer um favor, remetendo-me para um exemplo semelhante passado há trinta e cinco anos. Quem viveu a campanha eleitoral de 1980 para as presidenciais recorda bem o medo suscitado pelos então líderes da Aliança Democrática para que fosse possível o triângulo de uma maioria, um governo e um presidente.
Na altura, votar em soares carneiro ou em Ramalho Eanes fazia toda a diferença entre a escalada para uma nova ditadura, mesmo que acobertada de aparência democrática, e uma democracia efetiva pelos padrões ocidentais.
Na época sá carneiro - que ainda há quem elogie passados tantos anos! - não pôde assistir à derrocada do seu plano. Aliás a deslocação ao Porto, que se lhe revelaria fatal logo na descolagem de Lisboa, teve muito a ver com o seu desespero por uma derrota iminente.
Embora se deixe muitas vezes iludir, o povo sabe distinguir o que está em causa e optar pelo contrário do que lhe querem convencer à conta de mil mentiras repetidas incessantemente ou dos números martelados sobre o desemprego e as exportações, que o INE vai prestimosamente publicando de acordo com os interesses de quem nomeou quem lá manda.
Com esse discurso catastrofista o PSD e o CDS só fazem convergir o voto útil no partido capaz de lhes ser alternativa. E não há muitos a esquecerem-se das miríficas promessas de há quatro anos, todas elas depois esquecidas.
Mas se há evidência maior da forte possibilidade da maioria absoluta para o novo governo liderado por António Costa, ela fica demonstrada com a reação dos que estavam presentes na sala, quando passos coelho e paulo portas apresentaram o seu programa de governo. Apoiemo-nos para tal no relato de Nuno Sá Lourenço hoje surgido no «Público»: (…) o resultado prático dos discursos foi uma sala sem ovações ou entusiasmo. As palmas foram escassas, as palavras de ordem gritadas quase nulas.
Discursar pela negativa tornava mais difícil à assistência assumir “orgulho” na governação, como tentara a voz off minutos antes. Os convidados mantinham o burburinho e as conversas laterais, enquanto os altifalantes e ecrãs replicavam imagens de paisagens solares e vocalizavam a confiança de que “Agora Portugal pode mais”. Quando, perto do fim, se cantou o hino, as vozes enlatadas da gravação não disfarçaram o austero empenho vocal da assistência. E tudo terminou sem os habituais gritos repetidos da sigla política em causa. Ali ninguém gritou PAF, PAF, PAF.”
Saco cheio de palavras foi como António Costa classificou o extenso documento em que se promete tudo e mais um pouco, mas sem contas a explicar como tal se revela possível. E com a marca de um radicalismo ideológico, que aposta na privatização da Segurança Social, depois de já tanto ter contribuído para a degradação do ensino e da saúde públicas.
Ontem ficou confirmado que já lá vem outro carreiro...
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