Prosseguindo em registo de férias - ou seja, o mais irregularmente possível - aqui vão mais algumas notas pessoais sobre os dias que passam.
1. A Grécia continua a estar na ordem do dia por razões óbvias. De Atenas Daniel Oliveira dá conta do total desequilíbrio de forças, que torna quase impossível a vitória do “OXI”. Um bom exemplo da máquina de propaganda dos que anseiam por manter curvada a cerviz perante os credores vem hoje na edição do «Público»: na cobertura televisiva das manifestações pró-sim ou pró-não as televisões, quase todas nas mãos da alta burguesia, dedicaram mais de 47 minutos às primeiras e apenas 8 às segundas. E não bastam os apelos dos junckers ou das merkels para que os gregos votem a seu favor, que ainda sobram vigarices como as de anunciar amplamente resultados de sondagens, depois desmentidas como falsas.
Nestes dias ainda vamos constatando algumas manifestações de patifaria intelectual em quem teria o dever de se comportar de outra forma. É o caso dos comunistas gregos, que parecem imitar os camaradas portugueses na facilitação das vitórias da direita, apelando à abstenção num escrutínio onde todos os votos contam mais do que o costume. Ou Shulz, presidente do Parlamento Europeu, que revela uma peculiar forma de entender a Democracia ao manifestar a esperança de nomeação de um governo de tecnocratas para substituir o do Syriza. Ou ainda alguns “socialistas”, como Álvaro Beleza, a afiançarem a votação no «sim», se lhes fosse dada a oportunidade de votar. O que diz tudo sobre o modelo de «socialismo» defendido pelos que constituíram o núcleo duro do segurismo…
A dois dias do referendo não teço grandes ilusões. E como já aqui disse, por muito que Tsipras, Varoufakis & Cª percam agora a batalha, o resultado da guerra lançada nestes meses contra o povo grego está longe de ficar decidida…
2. Por higiene mental quase nunca frequento as páginas do «Observador», o diário online lançado pelos neocons lusos. No entanto, as exceções justificam-se como no caso da notícia sobre um livro de António Morais, o célebre professor de Sócrates, que terá estado no centro das atenções aquando da campanha mediática contra a licenciatura na Universidade Independente.
Em “Sócrates, a Cova da Beira e a Licenciatura – verdades e mentiras”, agora editado pela Chiado Editora, ele desarma todas as falsidades então repetidas milhentas vezes para parecerem conter algum fundamento de verdade.
Eis um extrato elucidativo desse livro:
“O exame ao domingo foi a maior mentira que a comunicação social inventou e escreveu sobre a licenciatura de José Sócrates. Obviamente que não houve qualquer exame ao domingo. Os media criaram um monumental embuste!… (…) Nalgumas certidões de curso de alguns dos alunos, emitidas pelos serviços académicos da Independente, a data, nelas presentes, relativa à emissão pelos serviços, correspondia a um domingo. Os jornalistas de modo muito pouco sério, e no contexto da campanha de conspiração e ataque a José Sócrates, associaram de modo oportunista aquela data ao dia da realização do exame, com o propósito de alimentarem a campanha em curso de intoxicação da opinião pública contra Sócrates. Não só é abusivo, como é falso. Os jornalistas montaram uma farsa com esta data. Não houve qualquer exame ao domingo. Os jornalistas que o escreveram… mentiram!”
Muito embora os mais recentes livros com Sócrates no título tenham objetivos comerciais e não propriamente de reposição da verdade, vale a pena olhar para este e questionar até que ponto o relatado por António Morais demonstra a existência de uma estratégia clandestina de destruição da reputação do antigo primeiro-ministro e dos que com ele colaboraram. Muitos, entre os quais me incluo, acreditam que sim.
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