Embora não acredite em determinismos só posso ser otimista quando ponho as lentes marxistas e encaro a História dos povos como a da luta de classes, que se digladiam, umas detendo o poder e outras aspirando a ele. Com a certeza de que por muitas batalhas que perca, a vitória final será sempre das classes que começam a ganhar ascendente e se tornam progressivamente mais fortes.
Reconheço, porém, que a vitória do «OXI» no referendo ontem realizado na Grécia, excedeu as minhas melhores expetativas. Perante todas as chantagens, manipulações e sabotagens impostas ao povo grego nestes últimos cinco meses e, particularmente, nestes dias mais recentes, tive o receio de estar a esta hora a olhar melancolicamente para a garrafa de Ouzo da minha garrafeira e a decidir preservá-la para melhor ocasião.
Sempre na perspetiva de se perder uma batalha, mas nunca a guerra em si.
Afinal abri-a com todo o gosto para celebrar devidamente o tremendo chapadão que o povo grego deu a todos os governos da zona Euro, recusando curvar-se perante os seus ditames humilhantes.
É nestas alturas, que faz todo o sentido o poema de Manuel Alegre sobre haver sempre alguém que resiste, alguém que diz não.
E a resistência grega, sabemo-la da História, sempre cuidou de derrotar os opressores por muito invencíveis que se julgassem. Lembremos o heroísmo dos que não precisaram dos Aliados para nada, expulsando os nazis da sua terra e preparando-se para instalar um novo regime democrático e socialista. Na altura foi Churchill quem lhes matou o sonho, enviando para Atenas contingentes militares, que aprisionaram e mataram os que tinham vencido os nazis e pondo no poder os que tinham primado pelo colaboracionismo com os ocupantes.
Lamentavelmente o Partido Comunista Grego insulta a memória dos seus antigos dirigentes ao pretender cavalgar a vitória do “Não” e querendo interpretá-la à sua maneira, quando andaram toda a semana a propor a abstenção aos seus militantes e simpatizantes. Lá como cá, os comunistas prestam-se ao papel de preferirem a direita no poder a colaborarem ou, pelo menos, apoiarem, quem tem preocupações de governar à esquerda.
E se Tsipras não for assassinado num dia destes - já que conseguiu concitar em si um ódio visceral em gente pouco recomendável como é o caso de schäuble ou dijsselbloem - pode converter-se num dos grandes líderes europeus, agora que eles primam pela quase inexistência. Porque, voltando ao manifesto marxista, ele dá voz à amálgama de classes, que a crise dos últimos anos, nem sequer proletarizou, porque passou em grande parte para a condição de desempregados de longa duração ou trabalhadores precários.
Perante a concretização do vaticínio de Marx quanto a uma sociedade cada vez mais caracterizada por uma exígua minoria de privilegiados e uma enorme maioria de desvalidos, - a tal desproporção de 1% de um lado e 99% do outro - a transformação política e social, que ditará o enterro deste capitalismo selvagem abrirá as portas a algo de novo, mas em que serão determinantes os valores da igualdade, da justiça e da fraternidade, que se tornaram imperativos com a Revolução Francesa.
E mal estarão os socialistas e os sociais democratas europeus, que rejeitam esta revolução em curso. Se a quiserem travar, em vez de a apoiar, acabarão trucidados.
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