Não têm faltado provas de tentativas de causar dano ao Serviço Nacional de Saúde para que ele corresponda ao pretendido há muitos anos por um deputado das direitas que dizia ser a saúde um privilégio de quem a pudesse pagar.
Nesta crise sanitária podemos constatar o quanto os portugueses sofreriam se os hospitais públicos não cuidassem de quem a eles teve de acorrer por se sentir acossado pelo terrível vírus. Em contraponto vimos os hospitais privados ora encerrados, ora a tentarem formas particularmente desonestas de lucrarem com a difícil circunstância.
Não admira ver o SNS constantemente sob ataque dos hospitais privados, que lhe querem sonegar a maioria dos doentes abonados com que possam fazer negócio, e contam para tal com as campanhas insidiosas dos bastonários dos médicos e enfermeiros ou do sindicalista-mor do SIM.
Quanto a isso pouco se pode fazer, porque as televisões, as rádios e a imprensa escrita em geral lá estarão a cumprir o papel pretendido pelos detentores da sua propriedade: a defesa das privatizações e a minimização do papel do Estado na salvaguarda dos direitos fundamentais das populações à saúde, à educação ou à segurança social.
Pior se afigura quando o cavalo de Troia está dentro da fortaleza do SNS e isso tem-se revelado dramaticamente óbvio no que vem acontecendo no Hospital Garcia da Orta em Almada.
Meses atrás ele ficou sob atenção mediática por causa das Urgências em Pediatria, que tiveram de ser suspensas por falta de médicos. Na altura ainda se acreditou ter-se tratado de um caso conjuntural ditado pela falta de profissionais habilitados a mantê-las abertas. As populações reclamaram, a ministra deu a cara, mas o Conselho de Administração e o diretor clínico meteram os pés pelas mãos, ora prometendo resolução para breve, ora adiando-a por indefinidos meses, porque confirmava-se a sua incapacidade para desempenharem tais cargos ao mostrarem-se avessos a darem imediata satisfação às inquietações de quem é utente do Hospital.
O que está a acontecer com o Serviço de Ginecologia e Obstetrícia, onde o seu diretor acaba de ser demitido por discordar das orientações do referido diretor clínico - notícia já chegada aos jornais e à TSF - ultrapassa o inadmissível para quem exige do Hospital em causa a resposta a situações tão exigentes quanto o são o acompanhamento das gravidas até ao nascimento dos filhos ou a resolução de problemas oncológicos, cujo protelamento só podem causar grave dano a quem deles padece.
Têm sido muitos os testemunhos da população em como o Dr. Alcides Pereira ganhou um enorme prestígio por ter conseguido transformar aquele serviço num dos que usufruem maior confiança e apreço aos que recorrem ao Hospital. São inúmeras as manifestações de apoio, que lembram quantas famílias almadenses e da região circundante tanto devem à competência de tal médico e dos seus colaboradores nas horas de ansiedade, depois seguidas do contentamento por partos ou operações cirúrgicas terem suscitado tantos felizes desenlaces.
Que um diretor clínico autoritário, decidido a impor a lei da rolha a quem discorda do rumo incompetente por ele pretendido, possa merecer injustificado apoio do Conselho de Administração, só se compreende porque, no conjunto, os seus titulares continuam a confirmar a inadequabilidade para responsabilidades, que ficam muito aquém das suas competências. Que a tutela se acobarde e não tome a única medida justificável nas circunstâncias, só se pode lamentar, sobretudo porque permite que o Hospital Garcia da Orta mantenha a curva descendente, que vem conhecendo na salvaguarda da defesa da saúde das populações e dando acrescidos argumentos aos que pretendem ver o Serviço Nacional de Saúde declinar a favor dos que se aproveitarão de tão lamentável involução.
O que se teme é assustador: que a decadência da prestação de serviços do Hospital atinja tal nível, que recuperá-los de tão nefasta gestão se revele tarefa bastante mais complicada do que se revelaria acaso quem deveria agora tomar posição firme, o fizesse...
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