segunda-feira, 15 de junho de 2020

Dos mesquinhos não reza a História


1. Poucos se lembram do Partido Renovador Democrático, surgido em 1985 de uma cisão do PS associada a eanistas, que ambicionaram ocupar o lugar dos socialistas e tornarem-se potenciais parceiros de governo das direitas. Outra motivação era a de ostracizarem Mário Soares depois deste ter garantido a integração do país na então Comunidade Europeia.
Não passaram muitos anos para ver o resultado de tal intenção: o PRD acabou por desaparecer começando por passar de 45 para 7 deputados e depois ver-se tomado de assalto pelos fascistas, que o transformariam no PRN. Quanto a Mário Soares a intenção saiu-lhes às vessas logo no ano seguinte quando tomou posse para o primeiro de dois mandatos como Presidente da República.
Quer isto dizer que quem aspira a derrubar alguém de valor, reconhecido pela sua competência, alegando motivos fúteis, facilmente verá chegado o ricochete de uma estratégia mesquinha e desprezada pela grande maioria dos portugueses. Tendo querido beliscar Mário Centeno o PAN terá aprazado na primeira oportunidade...
Como dizia o Arnaldo da Cunha Serrão na sua página do facebook ainda se poderá ter olhado com alguma simpatia para o PAN quando surgiu para contrariar a barbárie tauromáticas ou a utilização de animais nas pistas de circo. Mas não tardou muito tempo para que ficássemos perfeitamente esclarecidos quando André Silva anunciou não ser de esquerda nem de direita.
Já sabíamos que esse tipo de discurso ou outra conhecida variante - “essa coisa das esquerdas ou das direitas já não quer dizer nada!” - sempre provém de gente claramente conotada com os setores ultramontanos da política, e o PAN está a demonstrá-lo com crescente evidência.
E a morte anunciada será, igualmente, o destino do Aldrabão que, perdida a tribuna nos jornais e televisão da Cofina, vai assistindo nas sondagens ao lento estiolar da sua breve notoriedade.  Tanto mais que a pandemia e o caso George Floyd tem alterado significativamente os paradigmas por que se norteiam as dinâmicas políticas internacionais. Se Trump ou Bolsonaro conseguiram chegar ao poder para revelarem a sua desastrosa incompetência e Putin, Orban, Erdogan ou o polaco Duda enfrentam a degenerescência dos seus poderes autocráticos constatando cada vez mais luzidia a vinda do comboio do fundo do túnel para os trucidar, os que os procuraram replicar - dos Le Pen a Salvini, de Abascal ao holandês Wilders - estão condenados a definhar, a regressarem à irrelevância donde nunca deveriam ter saído.
O mundo pós-covid 19 não será muito diferente do que prevalecia antes da crise. Mas, nalguns aspetos, dá sinais de vir a ser diferente. Devolvendo o Aldrabão ao mesmo sítio onde estaciona o camião desse outro fogo fátuo chamado Pardal Henriques, ainda ocupado a lamber as incuráveis feridas.
2. Tulsa, 1912. Em menos de dois meses a população negra da cidade foi massacrada pela população branca que, como saldo, deixou o rasto de trezentos mortos no bairro de Greenwood, cujas casas e lojas foram destruídas.
Jacksonville, 1960. Num sábado membros do Ku Klux Klan atacaram com machados e tacos de basebol um grupo de jovens negros que protestavam contra a segregação racial.
Nessas duas cidades norte-americanas estão previstos dois grandes eventos eleitorais de Donald Trump: no primeiro terá o primeiro comício da campanha, no segundo fará o discurso de aceitação da candidatura a novo mandato pelo Partido Republicano.
Em duas cidades, que são símbolos do racismo, que grassa no país, não se prevê de Trump nenhum discurso a reconhecer o facto. Mas não deixa de ser simbólico que nelas imponha a sua presença como se, vestido de general confederado, ali proclamasse ter sido outro o resultado final da guerra da Secessão.

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