sábado, 13 de junho de 2020

A quem aproveita o crime?


Os apreciadores dos bons livros policiais podem sempre alegar que as escolhas literárias decorrem da sua semelhança entre a ficção e a realidade. Ler um romance de Dashiell Hammett ou Raymond Chandler propicia mais fidedignas informações sobre a América de entre as duas guerras, que a generalidade dos ensaios históricos a ela dedicados. Muito embora a nossa interpretação possa sair distorcida pela frequente presença da femme fatale, que convertia a intriga numa lógica do cherchez la femme.
Distâncias ideológicas à parte, e também de cultura, talvez seja mais asizado convocarmos Hercule Poirot para desvendar a autoria da vandalização da estátua lisboeta dedicada ao Padre António Vieira. Se nos recordarmos do detetive das celulazinhas cinzentas facilmente concluímos que o seu método de esclarecimento dos homicídios assentava em duas questões muito básicas: que lucro há a retirar do crime? E a quem ele mais aproveita?
Não há grandes dúvidas que os putativos culpados cedo se deram a conhecer: Chicão foi o primeiro, quase tão só conhecida a notícia, como se a esperasse para mais um dos seus patéticos números com que procura, em vão, contrariar a anunciada morte do CDS. O Aldrabão logo se lhe colou na expetativa de não ver o rival a reduzir-lhe os cada vez mais minguados simpatizantes. E logo à festa viria somar-se o Rangel que, das Europas, sempre se tenta fazer convidado para festas e festanças, qual conhecida figura em tempos evocada por outra estrangeirada personalidade.
Todos sabiam o que a central de desinformação do clã Balsemão ou o pisca-pisca da RTP logo aproveitariam para iniciarem telejornais com indignada consternação. E a pressupor serem culpados os que os suspeitos mais óbvios pretenderiam que fossem apontados.
Em política há sempre a considerar a possibilidade da estupidez se manifestar das formas mais absurdas e contra quem a perpetra. Mas, mais provável, é que ganhem maior peso as estratégias maquiavélicas de quem se comporta de acordo com os ganhos a alcançar com os seus atos. E não é novidade a infiltração das manifestações norte-americanas contra o racismo por suprematistas brancos dispostos a aproveitarem-nas para sabotá-las com os atos de anarquia, que lestamente fomentam.
Nos últimos meses as nossas direitas mais extremas - em que o se integram o Chicão e o Aldrabão - copiam receitas e propostas dos seus émulos de além-Atlântico. Será crível que lhes repliquem igualmente as estratégias...

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