sábado, 27 de junho de 2020

Falemos hoje de fantasmas e de moscas...


1. No mesmo dia em que umas centenas de pascácios desceram a Avenida da Liberdade para comprovarem quão poucos são, proclamando uma das muitas mentiras em que porfiam, conheceu-se o relatório do European Social Survey sobre o racismo em Portugal. Por ele corrobora-se o que já sabíamos: quase dois terços dos portugueses manifestam comportamentos ou opiniões racistas e apenas 11% se livram de um preconceito preponderante nos mais velhos, e em que nem a escolaridade, nem o rendimento serve de demarcação. Há gente que muito poliu os bancos das escolas e universidades e nada aprendeu para saber o que é a tolerância e confirma-se que tanto faz ter conta bancária recheada como não, porque tanto ricos como pobres são racistas de acordo com índoles cuja explicação residirá em tempos mais recuados.
Sobre a passeata de sábado à tarde pouco haverá a acrescentar: se, desde o 25 de abril, os fascistas mais descarados têm encontrado expressão em grupúsculos ultraminoritários, as expetativas futuras prometem não lhes serem mais animadoras. É que olhando para aquela gente nem dá para reconhecer-lhes a capacidade de nos assombrarem. Porque, sem disso se darem conta, são fantasmas de tempos idos a que jamais pretenderemos regressar.
2. Era expectável o que anda a acontecer: depois de semanas a remoerem o azedume de Portugal passar pela crise do covid 19 com alguma benignidade, basta as coisas parecerem um pouco menos dignas de elogio para saírem da sombra os que nela se acoitaram à espera de ganharem protagonismo no que julgam ser momento propício. O bastonário da Ordem dos Médicos é tipo D. Constança, presença inevitável em cada festança onde manda o protocolo dizer cobras e lagartos do governo. E Rui Rio volta-se a mostrar o homem sem qualidades, que tantas circunstâncias passadas já confirmaram.
Não cuide o PS de manter as pontes possíveis com os parceiros da dita geringonça e arrisca-se a vê-los darem a mão ao PSD para levarem o antigo autarca do Porto ao colo até São Bento. Com manifesto prejuízo para todos quantos viram minguados os direitos e os rendimentos entre 2011 e 2015. Porque Rui Rio confirma aquela regra debitada pelo personagem de Lampedusa que, afiançava a necessidade de, querendo-se os ricos mais ricos e os pobres mais depenados, mudar alguma coisa para que tudo ficasse na mesma. E, de facto, o PSD de Rui Rio em nada se diferencia do de Passos Coelho: as moscas que nele moram são exatamente as mesmas...

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