É raro concordar com Marcelo, mas tenho de convir que, por uma vez, sou obrigado a reconhecer-me na estupefação por ele sentida perante as palavras do presidente do Novo Banco. A coincidência na reação esgota-se porém na expressão, porque não foi o conteúdo das mesmas a suscitarem-me o espanto, mas a desfaçatez com que António Ramalho o fez.
Sabemos que os fundos-abutre primam pela falta de escrúpulos. Pudera! Nem mereceriam o termo injurioso se lhes sobrasse a mínima pinga de tal cuidado. Mas, perante um país a contas com uma tal crise, Ramalho não se poupa a esforços para exigir mais dinheiro do Estado, mesmo que, a coberto do tal Fundo de Resolução, que nunca chega a sair do perene esvaziamento. E cuidando, entretanto, da vidinha, porque mais depressa decidiu bónus indecorosos para rechear as suas contas, do que conseguiu dar alguma solvibilidade a um Banco assumidamente falido (ou será que sem os sucessivos cheques ainda teria abertas as portas?).
Olhamos para Ramalho e não esquecemos o quanto sempre acompanhou dos senhores do «Compromisso Portugal», que não se contentaram com os desmandos cavaquistas na nossa economia e promoveram o Observador como ponta-de-lança dos seus interesses promovidos através de Passos Coelho. Azar deles: a marioneta saiu-lhes prestável (e por isso, apesar da fama de cábula, arranjaram-lhe cátedra numa universidade!), mas manifestamente incompetente. Porque a transformação definitiva do país com a privatização do que ao Estado restava e a precarização massiva de quem trabalha - convertido na uberizada fórmula do empresário por conta própria a mando de patrões dispostos a pagarem-lhes o mínimo e a exigirem-lhes o máximo! - concluiu-se ao fim de quatro anos não se perspetivando oportunidade a médio-longo prazo para que se cumpra tal desígnio.
Nesse sentido António Ramalho divergiu de Paulo Macedo que, apesar das críticas justificadas quanto ao seu consulado á frente da Caixa Geral dos Depósitos, tem cumprido a função sem nada exigir de inusitado aos nossos bolsos de contribuintes. Para o lugar tenente da Lone Star em Portugal o contrato criado por Sérgio Monteiro a mando de Carlos Costa, é para ser lido nas letras maiores, mas também nas mais miudinhas, aquelas que neles sempre comporta o que de intencionalmente vigarista contêm. Por isso diz ser a pandemia uma «extrema adversidade», que impõe mais dinheiro do Estado.
Espera-se que, tal como se deseja ver cumprido na TAP - com a vontade de Pedro Nuno Santos a sobrepor-se à de António Costa - também no Novo Banco se chegue à altura de dizer Basta e ele seja objeto de uma intervenção, que ponha cobro aos inaceitáveis rios de dinheiro, que para ele foram, entretanto, despejados.
Sem comentários:
Enviar um comentário