quinta-feira, 25 de junho de 2020

Nova Iorque vista com trinta anos de diferença


A primeira visita que fiz a Nova Iorque, e a Manhattan em particular, foi no verão de 1978.  Encontrei-a, pois, tal qual Martin Scorcese a filmara dois anos antes com Robert de Niro a desempenhar o papel do taxista decidido a percorrer a sua via sacra para garantir a catarse das expiações do realizador enquanto cristão angustiado.
A Rua 42 era uma sucessão de sex shops e de peep shows com as prostitutas em permanente assédio a quem por ali transitava. No bairro italiano os polícias sentiam-se tão inseguros, que vigiavam as ruas dentro daquelas lavandarias abertas toda a noite para que os clientes metessem moedas nas máquinas e delas se servissem. Num delicatessen, onde jantei com alguns colegas, um cliente veio à nossa mesa desafiar um deles porque, na sua perspetiva, estava a olhar insistentemente para a namorada (e se calhar até era verdade, tendo em conta de quem se tratava!).
Havia, pois, uma sensação de insegurança, que se estendia ao ferry para Staten Island onde, no piso inferior, quase ficávamos pedrados com o cheiro da marijuana aí presente sob a forma de densa cortina de fumo.
Foi experiência completamente oposta à última vez que ali fui há uns sete ou oito anos. Para além de se ter tratado da ocasião em que dispus do tempo bastante para apreciar a notável coleção do Metropolitan Museum ou subir a espiral do Guggenheim, senti uma enorme segurança em andar nas ruas à noite. Fui a um espetáculo na Broadway, passei umas horas numa cave a beber gin e a ouvir um excelente grupo de jazz e não senti nada de parecido com essoutra vez em que decidi comer umas sandes no Union Park e, no banco onde me quis sentar, encontrei ao lado a marca a giz de um corpo ali abatido horas antes.
E, no entanto, em termos de decência, da primeira vez que fui a Nova Iorque residia na Casa Branca um homem bem mais decente do que aquele que ali residia da última vez que lá fui. Mas, enquanto Jimmy Carter tinha uma honestidade, que não existiu em Obama - cujo Nobel desmereceu o carácter de falcão, que sempre revelou nas questões da Defesa! - a aparência ditava que este último se mostrasse muito mais convincente na capacidade de suscitar efetiva mudança nos rumos do país do que o infeliz antecessor, incapaz de gerir convenientemente a herança de uma derrota acabada de sofrer no Vietname...

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