segunda-feira, 29 de junho de 2020

Os prometedores sinais que vêm d’além-Pirenéus


A imprensa francesa dá os ecologistas como os grandes vencedores da segunda volta nas eleições municipais de ontem, mas prefiro realçar o sucesso dos socialistas, porque foram particularmente saborosas as vitórias de Anne Hidalgo em Paris e de Martine Aubry em Lille ou a humilhante derrota de Gérard Collomb em Lyon.
As duas primeiras mantiveram-se no partido, quando Macron fez sobre ele uma OPA agressiva após o desastre Hollande e viram confirmada a coerência e competência com o apoio dos seus munícipes. Quanto a Collomb, um dos trânsfugas para o reduto presidencial - sendo então premiado com o influente ministério do Interior -, de nada valeu aliar-se, em desespero de causa, a toda a direita, porque os leoneses cuidaram de o despachar para o merecido caixote do lixo onde cabem os oportunistas impossíveis de reciclar.
Para quem dava o partido de Mitterrand como moribundo com prognóstico de vida muito reservado, o resultado foi animador. A recuperação ainda demorará, mas está em curso, tanto mais que o partido de Macron conhecerá destino semelhante ao, entre nós, verificado com o eanista PRD e os Verdes assemelham-se ao nosso PAN: tão comuns são as divisões no seu seio, fruto da total indefinição programática, que vá além dos seus slogans de protesto. Tudo se conjuga para que os socialistas recuperem a histórica relevância, tanto mais que, em muitas autarquias foi possível unir todas as esquerdas numa demonstração plena das vantagens de se esquecerem as estéreis divisões, que as vinham dividindo. A União da Esquerda, que valeu a vitória da força tranquila em 1981, poderá estar a germinar para os combates seguintes.
Uma última constatação, igualmente, interessante, terá sido a quase ausência da extrema-direita dos Le Pen, mesmo com a exceção de Perpignan. Se o Aldrabão luso espera ganhar alento nos sucessos dos congéneres além-fronteiras, bem pode esperar sentado, porque eles vão de derrota em derrota até ao final definhamento.

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