Uma das vantagens desta crise tem sido a de, aos olhos de muitos, separar o trigo do joio. Por muito que andem distraídos das coisas da política é-lhes inevitável a intuição sobre as diferenças entre quem a tem enfrentado e quem poderia servir-lhe de alternativa, quer por já ter estado nas mesmas funções, quer a elas aspirar. Não deixa de ser, por isso, elucidativo o «desaparecimento em combate» de Cavaco Silva e de Passos Coelho - sabedores de como ficariam mal no filme se se atrevessem a reivindicar nele algum papel. Basta imaginarmos, por um instante, o que seria vermo-nos nestas circunstâncias com um deles ao leme para o susto ser tão imediato, que a ideia logo foge do pensamento.
Quase o mesmo sucede com Rui Rio, que se nos pode afigurar um pouco menos assustador por, convenientemente, colar-se às decisões governativas. É o velho preceito do «se nada podes contra eles, junta-te a eles». Mas, suponho que nem o ppd mais clubista se atreverá a contestar que, em comparação com a dimensão competente de António Costa, o líder da oposição faz figura de pífio amador.
Se, como Pombal, há personalidades que aparecem na ribalta da História para comandar a resposta a crises como nunca até então conhecidas, António Costa enquadra-se nessa constatação. Não surpreende, por isso, que o diretor do «Público», tão rebarbativo para com a governação do PS nos quatro anos transatos, conclua o editorial de hoje com esta eloquente rendição: “Goste-se ou não do PS, de António Costa ou das suas ideias, há nesta evolução uma realidade incontornável: nunca como hoje o secretário-geral do PS vestiu tão bem o seu fato de primeiro-ministro”. E essa rendição também foi a dos jornalistas da RTP que, ontem, o entrevistaram, abdicando das atitudes anteriores de o tentarem sempre interromper, de lhe sabotarem a exposição clara e concisa do seu consistente pensamento.
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