Os patrões são como os escorpiões: está na sua natureza explorarem quem para eles trabalha, pagando-lhes menos do que a riqueza por eles produzida: a tal mais-valia que Karl Marx definiu como um dos pilares da sua análise dos sistemas económicos.
Podemos ter alguma consideração pelos pequenos e médios empresários, que viram na criação dos seus negócios a solução para não terem quem os empregasse mas, mesmo esses, algumas vezes comportam-se como pequenos tiranetes para com os seus trabalhadores.
Por muito que desagrade aos meus amigos sociais-democratas as coisas são como são e não há volta a dar-lhes. Mesmo devendo reconhecer que a vida profissional ao sedentarizar-me em terra, perdidas as graças do mar, me fez diretor de empresas e por isso mesmo lugar-tenente dos interesses desses mesmos patrões. Aos quais nunca iludi quanto à minha filiação ideológica e partidária: mesmo daquela em que saí para a reforma e onde tinha assento na reunião mensal dos diretores-gerais, todos me sabiam republicano, ateu e socialista, apesar de quase todos os demais na sala se postarem nos pólos contrários ou, pelo menos, silenciarem prudentemente as opiniões. E das três em causa saí pelo meu pé, quando quis, e não por ter sido por qualquer razão, empurrado para tal, muito menos pelas minhas assumidas convicções.
Por ter essa visão transversal da realidade empresarial compreendi perfeitamente o que esteve em causa, quando o Saraiva da CIP veio pedir ao governo que, temporariamente, pusesse dinheiro nas empresas em dificuldades às quais já nem as linhas de crédito valem. E apesar de se colocar na posição de quem se chega à frente de mão estendida qual indigente pedinte, ele não deixou de querer demarcar as condições: o Estado ficaria temporariamente como acionista nas empresas em causa, sem palavra a dizer na sua gestão - nada de se arvorar em detentor de golden shares! - nelas perdurando enquanto dessem prejuízo, mas comprometendo-se a sair quando, chegadas aos lucros, esses seriam entendidos como da exclusiva partilha entre os acionistas privados. Como de costume os patrões retém o essencial da sua natureza: querem democratizar os prejuízos por todos os contribuintes, dos lucros se locupletando tão-só lhes devolvam o ganancioso salivar.
Razão para voltar a elogiar, uma vez mais, o ministro Pedro Nuno Santos que, perante tentativa semelhante por parte dos acionistas privados da TAP, já lhes endossou o merecido recado: se não têm meios para evitar a falência da empresa aceitarão o dinheiro do Estado na condição de lhe reconhecerem os direitos de definição da gestão que a percentagem maioritária no capital social pressupõe. Prepara-se, assim, para reverter de vez o crime lesa-pátria que Passos Coelho cometeu ao querê-la privatizar no sórdido crepúsculo da sua desgovernação. E, isso sim, é exercer inteligentemente o poder negocial que as circunstâncias lhe facultam...
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