sábado, 16 de maio de 2020

Confiança, pois!


Na antevéspera da segunda fase do desconfinamento a imprensa em geral reconheceu a confiança com que o primeiro-ministro anunciou a semialforria dada aos portugueses para saírem de casa e retomarem alguns dos hábitos anteriores. O de irem ao restaurante, visitarem museus, voltarem às plateias dos cinemas ou, muito proximamente, retemperarem-se com vitamina D nos areais atlânticos. Para além de, retomando a presença física nas empresas, devolverem aos patrões a responsabilidade pelo pagamento da água, da eletricidade, da climatização e de outras despesas ultimamente por si pagas durante o teletrabalho.
António Costa tem todas as razões para exibir o otimismo, que tanto irrita Marcelo. As sondagens dão-no como abeirando-se da maioria absoluta, dado Rui Rio evidenciar a bipolaridade de uns dias parecer responsável e colaborante para, nos outros, se apegar à primeira oportunidade, que julga capaz de o diferenciar para melhor de quem lidera a resposta à crise. Nessas contradições vai lembrando a inconsequência de um qualquer general enleado num labirinto sem saída. E o mesmo sucede com a demais oposição à direita: o Aldrabão vai caindo no apreço dos iludidos apoiantes apressando-se a competir com o CDS e a IL como lanterna vermelha dos partidos com representação parlamentar.
Quanto aos antigos parceiros da maioria da legislatura anterior nada os faz alavancar os apoios curtos, que concitam: enquanto o Bloco mantém os sintomas da doença infantil invariavelmente associável a quem tanta pressa tem em chegar aos objetivos, que deixa para trás quem deles tiraria melhor proveito, o PCP denota a perigosa senilidade de quem, teimando em quem é, esquece inevitavelmente as mudanças que lhe deveria melhorar a resiliência a um tempo que, assim. deixa de ser o seu. Quanto ao PAN, o que dizer, da incurável hibridez, de quem se guia por uns quantos conceitos e preconceitos sem conseguir deles dar aparente coerência?
Existem, pois, todas as razões para acreditarmos na grande vantagem de enfrentarmos os desafios da recuperação desta crise com quem mais habilitado está para a superar. A exemplo do que o fez entre o final de 2015 e o início deste ano. E para quem julgava que a demissão de Mário Centeno poderia pôr em causa a competente governação socialista dos próximos anos, bem pode desiludir-se: seja como ministro das Finanças, seja como eventual governador do Banco de Portugal, continuará a ser esteio fundamental para que, daqui a um par de anos, olhemos para este início de década e concluamos ter sido um período complicado depressa vencido.

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