terça-feira, 5 de maio de 2020

Subsídios a quem os não merece?


Não me iludo ao ponto de considerar que constitua sondagem fiável a implícita no universo dos meus 3692 amigos do facebook pela qual facilmente concluiria haver uma percentagem significativa de portugueses incomodados com a ideia de um apoio estatal aos meios de comunicação social. O governo já espalhou umas migalhas por uns quantos jornais, Marcelo atua como lobista desses e doutros candidatos aos reivindicados subsídios, que dizem indispensáveis para garantir a sustentabilidade de quem não tem revelado mérito bastante para evitar o desiderato expectável,
Admito que haja quem, fora do universo da referida “sondagem”, considere a esmola necessária em nome de uma imprensa plural e objetiva. O problema é que os candidatos ao óbolo não apresentam credenciais merecedoras de se vir a colher tão desejável resultado. Na edição de hoje do «Público», o prof, J-M. Nobre-Correia publica um artigo de leitura obrigatória sobre o assunto em que explica as razões de recusa desse tipo de apoio à imprensa desportiva e aos jornais regionais. A sua prosa elegante e inteligente deixa implícitas as razões que, de forma mais truculenta, podemos sintetizar no seguinte: a imprensa desportiva não justifica essa mercê pelo muito que tem contribuído para a criação de uma (in)cultura de seita clubística, que, aqui e noutros países, constituem o ninho de víboras onde germinam os ovos do pós-fascismo atual. E sobre os jornais regionais quantos deles escapam à condição de porta-vozes de caciques locais pouco recomendáveis?
Há uns anos numa Universidade de Verão organizada na pousada da Juventude do Pragal o excelente jornalista que é Paulo Pena considerava possível o relançamento de um projeto do tipo do saudoso «O Jornal», liberto da tutela dos grandes grupos económicos e capaz de sobreviver à custa dos leitores e do engenho dos seus cooperantes. A dificuldade estaria em garantir o milhão de euros, que então estimava necessário para o seu lançamento. Daí que, se é exigido ao governo um apoio substantivo á imprensa ele deverá passar pela aprovação de uma linha de crédito a uma publicação semanal dotada de uma rigorosa e ativa provedoria, que assegure o cumprimento da tal pluralidade e objetividade inerente ao código deontológico dos jornalistas e tão atropelado pela maioria dos que vemos atuarem desabridamente nas televisões, nas rádios e nos jornais. Só que pode bem imaginar-se o alarido que tal medida suscitaria por parte de quem se constitui como porta-vozes da parcela passista-cavaquista do PSD como o são o «Expresso » ou «O Observador»! Porque o medo de perderem influência perante um concorrente capaz de produzir melhor e mais fiável informação é plenamente justificado!
A crise por que passa a imprensa enfeudada aos grandes grupos económicos e financeiros (ou aos que pretendem vir a sê-lo) nunca deverá justificar que recebam dinheiro de quem, pelo voto maioritário nas esquerdas, se sabem zangados ou meramente cansados com os conteúdos criados dentro da lógica de se tornarem verdades à conta de se verem tantas vezes repetidos. E muito menos se poderá facilitar a vida aos agentes da Cofina que as nossas secretas devem ter debaixo de olho para corresponderem aquilo que o Conselho de Fiscalização do Sistema de Informação da República Portuguesa acaba de denunciar como um dos perigos mais sérios, que nos espera no futuro próximo: o crescimento da extrema-direita e das suas ações criminosas. Se assim é - e não duvidamos que o seja! - para quê atribuir dinheiro que descontamos nos nossos impostos para que os Venturas, os Cotrins, e outros que tais, ameacem a nossa Democracia através dos altifalantes generosos, que essa «imprensa» tanto gosta de propagandear...

Sem comentários:

Enviar um comentário