terça-feira, 19 de maio de 2020

Aparvalhada, disse ela...


Não se trata de gratuita ofensa, porque as palavras foram de Ana Gomes, quanto à forma como se sentiu ao ouvir as declarações de António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa na ida à Autoeuropa. Mas o comedimento de quem parva se sente, exigiria o recato do silêncio para não dizer ... parvoíces.
A antiga embaixadora em Timor e deputada europeia, às vezes desassombrada nas suas posições, que a seu favor conta o lado certo da trincheira em muitos combates em que batalhou - e um dos mais relevantes foi a tentativa de levar Paulo Portas à verdadeira Justiça por causa do negócio dos submarinos! - também facilmente se deixa levar pelo empolado ego e arrastar-se para outros em que se valorizaria a contenção quanto a disputas a contento dos que há mais de cinco anos se inconformaram com a derrota de António José Seguro e tudo têm feito para semearem de pedras o caminho de António Costa como primeiro-ministro. Francisco de Assis é o cabeça de fila dessa frustrada tendência não sendo por acaso que tenha vindo da sua pena a proposta para o lançamento da candidatura de Ana Gomes.
Olhando para trás há um sabor a requentado numa remake, que contou com Maria de Belém como cabeça-de-cartaz em anterior jogada, que se saldou vitoriosa para os seus promotores. Porque, há cinco anos, os defensores dessa candidatura não tinham qualquer ilusão quanto aos méritos da consultora do Grupo Luz Saúde para o cargo de presidente da República, mas motivava-os a derrota de quem António Costa dera claros sinais de apoiar ao convidá-lo para o Congresso do Partido no Parque das Nações: António Sampaio da Nóvoa.
Sei fútil o exercício da conjetura alternativa da História, mas sempre questionarei o que teria sucedido se a jogada dos que se acoitaram por trás de Maria de Belém não se tivesse verificado e todo o partido se tivesse batido pelo atual embaixador na Unesco? Quase certamente teríamos uma segunda volta em que, no debate decisivo, o candidato então apoiado por toda a esquerda, voltaria a repetir o banho dado a Marcelo no da primeira volta e poderia ter chegado a outro resultado.
Digo-o hoje, como então, e sei que muitos pensam do mesmo modo: não foi só Marcelo a privar o país de quem mais tinha as melhores capacidades e condições para ser o Presidente da República de que necessitávamos nas circunstâncias vividas desde então. Essa acusação melhor se aplica a esses autoproclamados socialistas, que mantém as quotas em dia para melhor o sabotarem por dentro. Porque execram as opções de convergências preferenciais com as esquerdas em defesa da sua mercadofilia que, a manter-se dominante no exercício político, só agrava as desigualdades sociais. Ou seja o contrário desse socialismo, de que se envergonham e por isso se dizem preferencialmente «sociais-democratas».
As tais parvoíces de Ana Gomes continuarão a merecer crédito nas televisões e nos jornais, por ser esse o interesse de quem as detém como exclusiva propriedade. E, inchada nesse tal egocentrismo, ela proferirá disparates como essa afirmação quanto a ser inaceitável que António Costa continue a mandar no partido. Aí podemos replicar com o óbvio Como disse?
Para Ana Gomes e os que, com ela, continuam a fazer mais mal do que bem ao Partido, e à esquerda em geral, a frustração de saberem o apoio que as sondagens atribuem a António Costa leva-os a exagerarem nos despautérios.
No título deste texto alterei numa palavra o título de um célebre romance de Marguerite Duras: Destruir, diz ela. Nesta altura não se perspetiva que seja outra a intenção de Ana Gomes relativamente ao Partido a que diz ainda pertencer...

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